Teses e dissertações

Sobre: A rainha dos cárceres da Grécia

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Paginário nomeia um diverso olhar diante da página literária, a página imagem, lida não mais enquanto suporte do texto, e sim escritura. A imaginação crítica: projeto estético de Osman Lins e Italo Calvino fundamentado em valores da modernidade literária que unem, pela linguagem poética, o discurso romanesco ao discurso crítico. Nos romances e ensaios, os autores criam estratégias de ficcionalização e expõem com rigor e paixão uma defesa da especificidade da Literatura. O trabalho está teoricamente argumentado com bases na releitura do conceito de imaginação restituindo o caráter crítico e seletivo do imaginário. Os romances A Rainha dos Cárceres da Grécia e Se um viajante numa noite de inverno são glosas de si mesmos: apresentam com ironia o fracasso das Teorias de interpretação frente a amplidão do literário. Livro, autor e leitor, personagens romanescos, são agora responsáveis pela construção das novas realidades textuais. O fanal: despertar o leitor da dormência mental provocada por alguns textos de fácil penetração e deslizamento, superfícies não porosas que são, sem obstáculos e labirintos.

Este estudo tem como objetivo evidenciar as ressonâncias, dissonâncias e consonâncias estético-formal entre Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e A Rainha dos Cárceres da Grécia (1976), sob o enfoque do 'espaço', tema bastante discutido nas obras desses escritores e críticos: Machado de Assis e Osman Lins. O espaço não é uma categoria estática e, por isso, deve ser associada a uma outra tempestade de coordenadas. A consideração tomadas sobre a subjetividade do representação - mimesis e verossimilhança - que laços, na modernidade, elaborações conseqüente entre os sujeitos da ação e sua / seu arco social. A concepção de espaço deixa do que foi apresentados no provocações teóricas assumidas em ambos os autores, quando, tomando consciência em direção reflexiva sobre a naturalização do sinal eo sinal estrutural imanente, respectivamente, eles procuraram fazer cálculos de novo a realidade teórico-literário de sua época.

A nossa investigação e reflexão histórica têm como ponto de partida o estudo da área central do Recife, o epicentro da Região Metropolitana do Recife, a partir do qual podemos averiguar, entre 1969 e 1975, como a cidade foi modernizada para se integrar de forma cabal aos padrões de uma sociedade de consumo e industrial, que para tanto promoveu um reordenamento urbano no seu centro, uma urbanização viária, a instalação de novos equipamentos urbanos e a remodelação de suas paisagens, arquitetadas através de ações instituídas e constituídas pelos poderes públicos, associados ao capital havido por novas oportunidades de negócios e aliados as classes sociais mais abastadas da cidade com interesses numa mobilidade territorial eficaz num tempo hábil, a partir de uma política assentada num aparelho de Estado de feições autoritárias, tecnocráticas e de uma racionalização instrumental da sociedade, impondo sobre as classes subalternas os custos dessa modernização. Mas, também, como estas reagiram e como Osman Lins, através do romance A rainha dos cárceres da Grécia, desvela, analisa e crítica essa modernização e dá voz e vez aos sonhos, projetos, experiências de vida, história e dramas dessas classes sociais deserdadas pela modernização brasileira. Partindo desta relação entre história/literatura e das mediações sociais e políticas entre as classes sociais, podemos, também, averiguar a produção de formas e modos de vida distintos na sociedade, a agregação de paradigmas à esfera cultural, a redefinição da relação com a memória e a história e a contigüidade com a reserva de consciência critica da sociedade.

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Tipo

Tese de Doutorado

Ano

2005

Esta tese aborda aspectos ainda pouco analisados de A rainha dos cárceres da Grécia, último romance de Osman Lins: o narrador, a estrutura e a memória e, principalmente, o mundo grego no romance. Procura tratar também de outras questões, como a relação de ruptura e continuidade entre Avalovara e A rainha; a mulher na obra de Osman Lins; o levantamento e a análise de parte das inúmeras referências literárias no romance, a intertextualidade - citações ou paráfrases de textos de autores como Machado de Assis, Sófocles, Goethe e Poe - e sua articulação com estrutura e o tecido romanescos. É necessário desde agora ressaltar que nada disso Osman Lins revelou em anotações, artigos ou entrevistas. São descobertas feitas no convívio com o romance publicado. O romancista condenava a explicação exaustiva da obra pelo autor e manteve-se coerente com esse princípio. A rainha dos cárceres da Grécia, escrito e publicado durante a ditadura militar, põe em cena personagens excluídos da divisão do bolo do "milagre". Texto síntese da obra osmaniana, o romance interpreta e denuncia a chaga viva do cárcere Brasil

Esta pesquisa tem a finalidade de analisar a representação do leitor em A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, resgatando os fundamentos da estética da recepção, ademais de realizar uma reflexão acerca da formação de leitores críticos, a partir dos referenciais de leitor que a Teoria Literária e a obra ficcional ora em estudo preconizam. A rainha dos cárceres da Grécia é um romance que propõe, em seu discurso literário, a interação entre leitor e texto. Essa relação exige uma participação ativa do receptor na construção do significado da obra. Esse leitor, que interage e desenvolve sua capacidade de criticar e relacionar as leituras, pode começar a ser formado no ensino médio por meio do ensino de literatura.

Este trabalho tem como objetivo a análise do romance A Rainha dos Cárceres da Grécia, de Osman Lins, procurando perceber de que modo a ironia que fundamenta seu procedimento formal e estético articula uma forte negatividade crítica. Essa negatividade articulada por meio da ironia, em muitas das diversas possibilidades e manifestações que esta permite, se dirige a várias esferas. Entre outros temas, em uma rara capacidade de abrangência e problematização, o romance de Osman Lins trabalha questões fundamentais ligadas ao sistema literário brasileiro; à literatura e aos problemas de representação; à crítica literária e aos complexos problemas políticos e culturais que a envolvem; ao estado-nação, à identidade de seus habitantes e à segregação social; à indústria cultural e aos meios de comunicação de massa; aos mecanismos ideológicos de dominação, junto à hipertrofia da razão instrumental; ao período ditatorial em que está inserido o livro e, de forma ampla, a questões que remetem ao quadro internacional, como o apagamento da história, a internacionalização do capital e a expansão de mecanismos hegemônicos e imperialistas bem como a posição peculiar e própria ao Brasil dentro desse panorama.

Este trabalho propõe um estudo dos romances A hora da estrela, de Clarice Lispector, e A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, à luz da contribuição de dois conceitos que, freqüentemente, são empregados em campos de significação muito próximos: mímesis e representação. A primeira parte do texto contém dois capítulos, dedicados a estes dois conceitos. No primeiro capítulo, a pesquisa busca em Platão e Aristóteles as raízes da mímesis como conceito e deságua, por fim, na formulação da tríplice mímesis tal como proposta por Paul Ricoeur, nos anos oitenta do século passado. Em seguida, discute-se o conjunto de usos do conceito de representação na teoria política, na psicanálise e na psicologia social. Na segunda parte do trabalho, investigamos, no terceiro capítulo, o rendimento analítico-interpretativo do campo conceitual da representação nos romances que constituem o corpus primário da pesquisa, enquanto, no quarto capítulo, as duas obras são consideradas sob o aspecto da formulação ricoeuriana da mímesis. Nos dois capítulos da segunda parte, privilegiam-se os procedimentos do narrador, no que se refere à composição narrativa e à construção das personagens.

Esta dissertação estuda a escritura do romance A rainha dos cárceres da Grécia de Osman Lins no limiar entre ensaio e ficção, principalmente no livro Guerra sem testemunhas, apontando para um narrador que se apresenta como testemunha para a escrita e que, no entanto, desaparece permanecendo o gesto. O conceito de anacronismo enquanto tensão entre tempos, representados neste livro pela aparição de personagens da história medieval (Maria de França) e pelo uso da quiromancia percorre toda a dissertação. Estes indícios contribuem para uma leitura enviesada feita a partir da ideia da teresa como máquina de leitura para atravessar os tempos do romance-diário. A aparição de personagens arcaicos no romance moderno, revelam as volutas do enredo, a escritura barroca de Osman Lins e a impressão como uma memória que caracteriza o livro como um romance contemporâneo segundo as considerações de Walter Benjamin e Giorgio Agamben.

Esse trabalho trata de dois aspectos presentes ao longo da trajetória narrativa de Osman Lins: a leitura e a escrita. Esses aspectos são percebidos tanto no nível temático quanto no nível da construção de personagens em quatro obras desse escritor: O visitante (1955), Nove, novena (1966), Avalovara (1973) e A rainha dos cárceres da Grécia (1976). O objetivo é, assim, verificar como Lins aborda a leitura e a escrita em suas narrativas, sob a perspectiva de um adensamento desses temas do primeiro ao último romance. Para realizar esse estudo de cunho bibliográfico, optamos por dividi-lo em duas partes. Na primeira, composta por dois capítulos, abordamos a leitura, o leitor, a escrita e o escritor em textos teóricos, críticos e sobre a história da leitura e da escrita, bem como obras literárias que representam esses temas. Nesse sentido, nos apoiamos em estudos de Eco, Chartier e Dällenbach, dentre outros. Percebemos, nesses dois capítulos, que tanto o tema da leitura quanto o da escrita são caros à narrativa literária desde o advento da modernidade. Na segunda parte do trabalho, nos propomos a analisar efetivamente a leitura e a escrita nas obras citadas de Lins, dedicando, a cada uma delas, um capítulo. Nesses quatro capítulos, buscamos um diálogo com a crítica especializada sobre o autor, considerando também a produção ensaística de Lins. A partir dessa análise, observamos que o autor adensa a leitura e a escrita de O visitante até chegar a A rainha dos cárceres da Grécia, partindo de uma perspectiva íntima desses atos, passando pela perpetuação da escrita e pela vivificação proporcionada pela leitura (seja de textos artísticos ou não), pelo viés da escrita literária até chegar a uma espécie de fusão de todos esses elementos.

Este estudo se propõe a analisar a relação entre leitura e coautoria em A Rainha dos Cárceres da Grécia, de Osman Lins (1976), bem como seus desdobramentos. A fim de traçar o papel do leitor sugerido por essa obra do escritor pernambucano, serão abordadas as seguintes questões, as quais remetem a facetas da leitura literária: o processo de significação; a relação entre leitura, experiência e identidade; a escrita da leitura e o jogo de autoria; e, por fim, as repercussões da crise da Literatura moderna no ato de ler. A proximidade entre leitura e criação - que ganha evidência nos textos modernistas do século XX e é um dos temas centrais de A Rainha dos Cárceres da Grécia - têm algumas repercussões: quem lê assume um lugar de destaque e, assim como o escritor, deve mergulhar universo ficcional e estabelecer pontes entre a ficção e o dito mundo real. A aproximação entre leitura e autoria, portanto, não envolve somente elementos estéticos, mas acarreta também um novo leque de responsabilidades ao leitor, a quem cabe estabelecer uma relação entre o livro, sua experiência e a realidade empírica, alterando sua percepção sobre o mundo e sobre si a partir da consciência trazida pelos livros lidos. Nesse sentido, um dos propósitos dessa pesquisa é mostrar como a metalinguagem não se restringe a aspectos estilísticos e formais, pois põe em jogo o vínculo entre o universo ficcional e a dita realidade. O diário-ensaio-romance de Osman sugere, porém, que essa ponte não deve necessariamente vir explicitada pelo autor, sendo uma das atribuições do leitor construí-la.

Este estudo apresenta um diálogo entre obras de escritores brasileiros atuantes na década de setenta, durante a ditadura militar brasileira pós-64, e livros de escritores anteriores cujas obras estão situadas no âmbito do século XX. Procura-se expor a relação produtiva, intrínseca à sua realização estética, formal e temática, que esses romances estabelecem entre si, e seu significado amplo em termos de crítica e historiografia literária. Os escritores abordados são: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Antonio Callado, Osman Lins e João Ubaldo Ribeiro. A base teórica fundamental para o estudo dessas relações está baseada na obra de Erich Auerbach e de estudiosos brasileiros, como Antonio Candido.

Ao longo do século XX e, particularmente, em sua segunda metade, os romancistas retomaram e acentuaram as reflexões sobre a construção romanesca. O olhar para a escrita do texto literário resultou em uma interação mais direta com o leitor e exigiu sua coparticipação na construção dos sentidos do texto, uma vez que o caráter metaficcional, somado a outras estratégias narrativas, em vez de facilitar a leitura a problematizou. O olhar narcisista do romance acentuou, também, a reflexão sobre vários aspectos, entre eles: a intertextualidade e a assimilação de outros gêneros discursivos. Assim, este trabalho visou estudar tais aspectos em dois romances de autores que pertenceram à mesma época, mas em países diferentes, e que utilizaram, praticamente, os mesmos recursos estéticos: Bolor (1999), do escritor português Augusto Abelaira, publicado em 1968, e A rainha dos cárceres da Grécia (1976), do escritor brasileiro Osman Lins, publicado em 1976. Assim, este estudo se justifica porque os dois romances mantêm, em suas composições, estratégias narrativas muito semelhantes: intertextualidade explícita com obras da literatura universal de diversas épocas, metaficcionalidade e uso da forma romance-diário. Outros aspectos se correlacionam com esses, como fusão entre tempo e espaço, temáticas assimiladas das obras citadas, pluralidade de vozes, entre outros. O objetivo deste trabalho baseou-se no pressuposto de que o estudo desses aspectos, partindo das relações intertextuais dos romances de Abelaira e Lins com as obras neles citadas, constitui-se em uma chave de leitura para a construção de sentidos em cada um dos dois romances. Para realizar o estudo comparativo, foram utilizadas teorias que fundamentam os aspectos de composição dos dois romances. Em relação à intertextualidade, utilizou-se a teoria de Mikhail Bakhtin (1981), Julia Kristeva (1974), Laurent Jenny (1979) e Gerard Genette (2006). A discussão sobre a noção de metaficção apoiou-se, principalmente, em textos críticos sobre os dois romances. Para o estudo da questão do romance-diário, foram utilizadas as teorias de Valérie Raoul (1999), Béatrice Didier (1976), Sheila Dias Maciel (2012), Maria Luiza Ritzel Remédios (1997) e outras. Para o estudo desses aspectos, partindo da intertextualidade, foram lidas obras citadas nos dois romances. Entre os textos citados em Bolor, foram analisadas todas as obras literárias, menos o livro Dias íntimos por estar esgotado nas livrarias. Entre os textos citados em A rainha dos cárceres da Grécia, foram analisadas sete obras que se relacionam a alguma das estratégias narrativas estudadas neste trabalho. Concluiu-se que as estratégias narrativas que estruturam os dois romances principais requerem um leitor participativo que leia atentamente os fragmentos dos diários e construa os seus sentidos, sendo que alguns destes somente são percebidos nas relações dos romances principais com as obras que eles citam.

Seguindo uma tendência geral das ciências humanas, a chegada da pós-modernidade nos estudos literários culminou na chamada “morte do autor”. Com ressonâncias que podem ser percebidas em teóricos como Roland Barthes (2004), Michel Foucault (2006; 1996), Umberto Eco (2005; 2004; 2003; 2001; 1986), Stanley Fish (2003; 1990) e Linda Hutcheon (2000; 1991; 1984), a descrença pós-moderna no significado e a convicção de que o que uma obra literária significa não só independe do autor como até encontra neste um obstáculo à criatividade por parte do leitor encontram-se amplamente divulgadas, tendo aportado na teoria da metaficção via Hutcheon (1991; 1984) e Patrícia Waugh (1984). No entanto, partindo do realismo hermenêutico, linha interpretativa segundo a qual o sentido de um texto é anterior à leitura e, sob muitos aspectos, independente dela, neste trabalho me proponho a rever o papel do autor em romances metaficcionais, em busca de leituras adequadas para tais romances. Minha teoria é a de que autor e escritor são pessoas distintas e que, dentre as quatro fontes enunciativas de um romance (escritor, autor, narrador e personagem), o autor é aquela responsável por abrir a obra, ativar a leitura e efetivar a metaficcionalidade. Dialogando com teóricos de vários campos das ciências humanas, procuro defender o autor de seus adversários e evidenciar que, nas relações que estabelece com a personagem em romances de protagonista escritor (como A Rainha dos cárceres da Grécia, Bufo & Spallanzani e O Chalaça) o autor metaficcional se dirige a nós, fazendo-nos apelos comunicativos e chamando nossa atenção para a ficcionalidade do texto. Assim, o que faço nesta tese é mostrar que, uma vez que os ataques às noções de pessoa, intenção e autoritarismo interpretativo podem até dizer respeito ao escritor, mas jamais ao autor, este não pode nem deveria ser morto. O autor, busco provar, é um elemento constitutivo da linguagem ficcional e é também o outro com o qual nos comunicamos na leitura de romances metaficcionais. O resultado é que nossa interação com tal pessoa estética é fundamental para que, distinguindo as vozes do escritor, do narrador e da personagem, sejamos capazes de ler tais romances sem fazer interpretações problemáticas.

an Lins sob a perspectiva das paisagens tendo em vista seu aspecto anacrônico. O espaço criado na obra reivindica o momento da Ocupação Holandesa no nordeste brasileiro do século XVII sobreposto ao contexto do então corrente século XX. Considerando o projeto de colonização flamenga bem como o seu legado iconográfico a partir das pinturas de paisagens do primeiro paisagista das Américas, Frans Post, procura-se uma leitura crítica da concepção histórica e literária na obra de Lins. Para isso, parte-se do olhar sobre o romance como forma e conteúdo, com suas raízes em obras prévias do autor, como Avalovara (1973) em que tempo e espaço são dimensões altamente elaboradas e problematizadas a partir da correlação estabelecida com formas geométricas e as noções de finito e infinito. Esta relação, por sua vez, propicia uma abordagem histórica dialética e anacrônica à maneira benjaminiana, ou seja, a contrapelo da oficialidade histórica e da progressão meramente cronológica. Além disso, a preocupação metaliterária bem como a constante transgressão que mistura o passado e o presente, o real e o ficcional também proporciona uma leitura sobre a "literatura" como via de mão dupla no que tange à relação com a "realidade" histórica. Desta forma, a produção de "imagens" no texto torna-se fundamental para a presente proposta de leitura ao ser abordada sob o aspecto paisagístico. Para entender a "paisagem" parte-se do "espaço" clássico até a sua "autonomia" na Idade Média quando a paisagem parece assumir o protagonismo para além da submissão à retórica. Os conceitos relacionados à mimese e alguns de seus desdobramentos - como nas leituras de Erich Auerbach, Luiz Costa Lima, Jacques Ranciére e Anne Cauquelin - a partir da afirmação aristotélica de que "a arte é a imitação da natureza" contribuíram para a reflexão proposta de modo a evidenciar a relação paisagem/natureza observada por Georg Simmel em A filosofia da paisagem. Paralelamente às grandes navegações, a paisagem surge com força nas artes e se torna, entre outras coisas, instrumento de discurso e "testemunho" sobre os novos territórios. No Brasil, a permanência dos holandeses por vinte e quatro anos no Nordeste (1630-1654) contou, durante os últimos sete anos, com a administração do Conde Maurício de Nassau e sua comitiva, da qual participaram artistas, dentre os quais Frans Post, "pintor de paisagens" cuja incumbência era "fundar? a paisagem brasileira. Deste modo, o legado imagético e principalmente paisagístico é nota dominante quanto a este período da história brasileira. Por fim, busca-se observar os efeitos críticos de leituras possíveis dada a combinação dos tempos e discursos que resultam no anacronismo instaurado no romance.

Este trabalho se propõe a analisar dois romances contemporâneos – Amadeo (1984), do escritor português Mário Cláudio, e A rainha dos cárceres da Grécia (1976), do brasileiro Osman Lins – a partir do modo como cada um demarca o lugar do leitor como personagem e a leitura como gesto a ser encenado no palco da ficção. Para tanto, busco examinar a aproximação, em ambas as obras literárias aqui abordadas, entre duas formações discursivas distintas e aparentemente opostas: de um lado, o discurso metaficcional que, tratando de acentuar o caráter artificial do objeto literário, acaba por explicitar a artificialidade do que nos convém compreender como real; de outro, o discurso biográfico, figurado no gênero diário, cujo vigor expressivo está tradicionalmente relacionado ao ilusório vínculo substancial entre aquilo que se narra e a experiência do sujeito empírico que se oferece como garantia de veracidade ao relato. Articulado ao diário, o trabalho crítico dos autores aqui estudados aponta menos para o lugar do escritor do que para o papel ativo do leitor na permanência do texto literário – o que implica analisar a relação entre leitura e experiência biográfica ou, em outras palavras, o modo decisivo como os atos de leitura encenados em cada diário sugerem a figura do leitor como sujeito, aqui entendido não em termos de essência, mas, segundo a imagem elaborada por Roland Barthes, como um compósito de linguagens que tendem mais à dispersão do que à unidade. Nesse contexto, a imagem do leitor como sujeito se desenvolve, tanto em Mário Cláudio quanto em Osman Lins, a partir de diálogo intertextual explícito com a obra do escritor francês Marcel Proust e seus locais de força: para além da natureza contraditória do amor e do caráter lacunar da memória, o autor de Em busca do tempo perdido surge nos romances para reforçar o tópico da dificuldade de escrever e, sobretudo, da possibilidade de transfigurar a experiência humana através do exercício da arte. Em vista disso, no último movimento deste trabalho, tomando como ponto de partida a reflexão de Michel Foucault sobre o tema, tento compreender, dentro dos quadros ficcionais, de que modo a leitura aponta caminhos para pensar a vida como obra de arte.

Esta dissertação busca explorar algumas imagens presentes no romance A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, publicado em 1976. A partir da paisagem arqueológica em Nazca, no Peru, e de alguns trechos de Alice no País das Maravilhas, discutimos questões afins ao exílio, enquanto impossibilidade de definição e expressão do sujeito, na escrita. Passamos por temas como a obscuridade, a marginalidade, a posição do olhar, a desaparição, o paradoxo, entre outros. Como base teórica, recorremos, principalmente, a Jean-Luc Nancy, Michel Foucault, Philippe Lacoue-Labarthe, Maurice Blanchot etc. Nossa leitura percebe no romance o vaivém entre contrários, a permanência de paradoxos e o questionamento do sujeito como coisa inteira, detectando, ainda, a luta de Osman Lins na escrita dos que não têm voz, na visibilidade do escritor brasileiro e na crítica literária como atividade marginal, que demanda investimento de vida, mais do que postura científica.

Prioriza-se nesta tese sobre A Rainha dos Cárceres da Grécia de Osman Lins, a identificação do conjunto de obras insertas no romance. Com este intuito, foi realizado um rastreamento dos autores e obras citados por Lins. Tendo em mente que a obra centraliza-se no entendimento textual (leitura), no processo de remissão à outras obras (intertextualidade) e na compreensão do fazer literário (escrita), foram eleitos cinco temas fundamentais na construção de um romance. Em um esforço de síntese, as temáticas eleitas para exegese foram abrigadas em cinco capítulos. Em A Situação Narrativa (capítulo 1) as camadas narrativas foram desmembradas nos três gêneros narrativos que explicam como a elaboração da obra: o diário, o ensaio e o romance. A complexidade da intriga conduziu ao estudo do Enredo (capítulo 2) no qual foi pensado o papel do narrador, e do autor. Na pesquisa sobre O Espaço (capítulo 3) foram analisados o conceito de dobra e fusão, além da elaboração de mapas demarcando o percurso dos personagens pelo espaço do romance (apresentados nos anexos). Na abordagem sobre o Tempo (capítulo 4) foi esmiuçado a confecção do diário (com elaboração do calendário dos dias escritos em cada ano) e a importância da estrutura numérica na divisões do texto (com elaboração de tabelas que revelam a harmonia alcançada do ponto de vista do planejamento) . No último capítulo esta pesquisa trata dos Personagens (capítulo 5) que foram subdividivos em cômicas e trágicas, um personagem de personagens e personagens históricos. Na conclusão foram retomados os principais elementos. Por fim foi acrescido aos anexos uma lista com as obras citadas pelo professor de acordo com sua aparição no diário e notas de pesquisas sobre os autores citados.

Esta dissertação pretende versar a respeito da leitura metaficcional do romance A Rainha dos Cárceres da Grécia (2005), do autor pernambucano Osman Lins. Teoricamente, pautamo-nos na descrição de Linda Hutcheon (2013), no livro Narcissistic Narrative: the metafictional paradox, a respeito de como a teoria mimética aristotélica pode ser lida nos romances ditos “contemporâneos” (discussão feita a partir de Agamben (2009)). Sustentamos o argumento de que a ausência, um híbrido entre tudo aquilo que não é representável e todas as suas tentativas de representação, é a motivação essencial de cada um dos narradores que A Rainha dos Cárceres da Grécia possui. Evocamos Henri Lefebvre (1983) para discutir brevemente sobre a teoria das representações; no campo temático, analisamos o caráter melancólico da criação que se pauta na ausência, bem como a angústia daqueles que enfrentam seus labirintos internos (SONTAG, 2017). No plano da estrutura romanesca, buscamos investigar as interpenetrações entre os eixos teórico, temático e estrutural no fenômeno que chamamos de “projeção alegórica”, que ocorre entre os personagens dos diversos níveis narrativos. Para tanto, recorremos à teoria sobre alegoria, presente na Origem do drama trágico alemão, de Walter Benjamin (2016). Buscamos investigar, também, aqueles que podem ser considerados os “mitos fundadores”, porque oferecem amplo material simbólico para a estruturação da verossimilhança de cada um dos níveis intercruzados do romance. Discutimos, especificamente, os mitos que podem ser considerados, segundo Eliade (1986), fundadores da presença de um tempo primevo, bem como trazem consigo o arquétipo da Memória – um dos mitos fundamentais do romance. O outro mito que se buscou analisar é a personagem Ana da Grécia, heroína da saga primordial que acontece nos “Cárceres da Grécia”, e que deriva a saga heroica de todos os outros protagonistas dos diversos níveis do romance.

A pesquisa consiste em um estudo comparativo das obras O beijo não vem da boca (1985), de Ignácio de Loyola Brandão, e A rainha dos cárceres da Grécia (1977), de Osman Lins, estabelecendo-se a partir de seu cotejo uma relação entre ausência e criação literária. Examinam-se os procedimentos narrativos no intuito de identificar a operação de uma espécie de “poética da ausência” em ambas as obras, cujos narradores-protagonistas, em suas trajetórias, tentam processar a perda de uma mulher amada. A pesquisa interessa-se especialmente pela figura desses narradores por serem eles, dentro da obra, escritores – ou seja, produtores de uma segunda narrativa no interior das narrativas em que se inserem –, dispondo dessa forma da palavra poética no esforço de superar a ausência das amigas perdidas. Os dois romances enriquecem-se mutuamente, conjugados em sua relação de dupla-escrita, e cada um deles é considerado enquanto uma estrutura que se organiza justamente a partir das ausências que enfrentam. O aporte teórico da pesquisa se faz com apontamentos de Giorgio Agamben, Roland Barthes, Maurice Blanchot, Jacques Derrida, dentre outros, bem como com o auxílio de estudos em geral sobre narratologia, aliando-os ainda a variados textos literários, na tentativa de se refletir acerca da linguagem poética e da forma do romance em suas múltiplas manifestações.

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