Teses e dissertações

Universidade Federal Fluminense

Filtrar por ano

Ordenar por

Este trabalho se propõe a analisar dois romances contemporâneos – Amadeo (1984), do escritor português Mário Cláudio, e A rainha dos cárceres da Grécia (1976), do brasileiro Osman Lins – a partir do modo como cada um demarca o lugar do leitor como personagem e a leitura como gesto a ser encenado no palco da ficção. Para tanto, busco examinar a aproximação, em ambas as obras literárias aqui abordadas, entre duas formações discursivas distintas e aparentemente opostas: de um lado, o discurso metaficcional que, tratando de acentuar o caráter artificial do objeto literário, acaba por explicitar a artificialidade do que nos convém compreender como real; de outro, o discurso biográfico, figurado no gênero diário, cujo vigor expressivo está tradicionalmente relacionado ao ilusório vínculo substancial entre aquilo que se narra e a experiência do sujeito empírico que se oferece como garantia de veracidade ao relato. Articulado ao diário, o trabalho crítico dos autores aqui estudados aponta menos para o lugar do escritor do que para o papel ativo do leitor na permanência do texto literário – o que implica analisar a relação entre leitura e experiência biográfica ou, em outras palavras, o modo decisivo como os atos de leitura encenados em cada diário sugerem a figura do leitor como sujeito, aqui entendido não em termos de essência, mas, segundo a imagem elaborada por Roland Barthes, como um compósito de linguagens que tendem mais à dispersão do que à unidade. Nesse contexto, a imagem do leitor como sujeito se desenvolve, tanto em Mário Cláudio quanto em Osman Lins, a partir de diálogo intertextual explícito com a obra do escritor francês Marcel Proust e seus locais de força: para além da natureza contraditória do amor e do caráter lacunar da memória, o autor de Em busca do tempo perdido surge nos romances para reforçar o tópico da dificuldade de escrever e, sobretudo, da possibilidade de transfigurar a experiência humana através do exercício da arte. Em vista disso, no último movimento deste trabalho, tomando como ponto de partida a reflexão de Michel Foucault sobre o tema, tento compreender, dentro dos quadros ficcionais, de que modo a leitura aponta caminhos para pensar a vida como obra de arte.

Este site não hospeda os textos integrais dos registros bibliográficos aqui referenciados. No entanto, quando disponíveis online em outros websites da Internet, eles podem ser acessados por meio do link “Visualizar/Download”.

;
;