Teses e dissertações

Universidade Federal do Ceará

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Este estudo apresenta uma leitura do romance Avalovara (1973) de Osman Lins (1924-1978) a partir da perspectiva da relação do texto literário com a realidade contextual de sua escrita e publicação Aceitando a premissa de que a criação artística encontra-se em uma complexa relação com os fatores sociais que envolvem seu autor sua construção e sua veiculação e que por isso traz em si uma espécie de reflexo estético desses mesmos fatores analisaremos o texto de Lins em busca de perceber como esse diálogo se estabelece em Avalovara De modo a observar como a referida obra dialoga como objeto artístico com as circunstâncias externas a ela contribuindo para o desvendamento de aspectos sociais além do âmbito estético bem como para a percepção da peculiar consciência estética e ética do autor na construção de sua ficção Para realizar tal intento contaremos principalmente com o apoio teórico do pensador marxista Adolfo Sánchez Vázquez (1965) do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre (1948) e das próprias ideias do escritor em estudo acerca da relação do criador de arte com a sociedade em que se insere contidas em seus trabalhos fora do âmbito da ficção

Em Guerra sem testemunhas (1969), o leitor poderá encontrar os fios que tecem a escritura de Osman Lins. Essas linhas parecem direcionar-se para uma verdade simulada, no interior do projeto literário do autor de Avalovara (1973), qual seja, a solidão irreparável daquele que se exprime pela palavra. A incomunicabilidade se torna, portanto, condição necessária no ofício de escrever. À semelhança do que nos diz Foucault a respeito do discurso do louco, o discurso do escritor precisa achar-se dissociado daquela linguagem regente da vida imediata, que legitima a consecução das ações destinadas a fins úteis, e empreender uma batalha cuja única glória é, talvez, a conservação de sua dignidade. Há, nessa escolha, uma similitude inconteste entre os imperativos morais que justificam a obra de dois ficcionistas, em aparência de todo dessemelhantes: Osman Lins e Lima Barreto. Este trabalho tem por objetivo analisar as confluências entre as escrituras destes autores, nas circunstâncias em que eles se observavam imiscuídos, sem, contudo, deixar de resguardar aquilo que perdura e reluz em cada escritura. Para tanto, nós nos valemos da contribuição reflexiva de filósofos e de críticos literários que nos antecederam, são eles: Jean-Paul Sartre, Pierre Bourdieu, Antonio Candido, Roland Barthes, Gaëtan Picon, Michel Foucault, Étienne de La Boétie, José Murilo de Carvalho, Nicolau Sevcenko, Leyla Perrone-Moisés, entre outros nomes. O primeiro capítulo da dissertação apresenta um breve debate acerca das motivações e dos embates dos escritores dentro do campo literário, tomando por base algumas das linhas argumentativas delineadas por Osman Lins em Guerra sem testemunhas. Nesse estágio, observamos as particularidades do campo literário em relação aos outros campos de poder, para, em seguida, analisarmos o campo literário brasileiro. A partir do entendimento das regras do “campo”, exaustivamente perquiridas por Pierre Bourdieu, em As regras da arte (1992), nós questionamos as posições ocupadas por alguns escritores notáveis do início do século passado, a fim de localizar as trincheiras de Lima Barreto e Osman Lins. O segundo capítulo retoma o conceito sartreano de negatividade com o propósito de esclarecer como a opção de Lima Barreto por uma literatura engajada o conduziu a um isolamento irreversível, transmudado em sua ficção. Antes de realizar o trabalho hermenêutico de Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá (1919), concedemos ao leitor um cenário que lhe possibilita avistar o essencial do projeto literário do ficcionista carioca. Por intermédio do conhecimento dessas peças, depreendemos algumas das razões que fizeram da escritura barretiana uma representação das contradições de seu tempo. O terceiro capítulo é dedicado ao encontro entre os ficcionistas. Assim como fizemos no segundo capítulo, avaliamos e discutimos o projeto literário de Osman Lins, em sua fase anterior a Nove, Novena (1966), obra que assinala seu rompimento com as narrativas tradicionais, destacando de que maneira as mitologias pessoais do escritor pernambucano contribuíram para forjar sua escritura. O romance, objeto de nossa análise e interpretação, é O fiel e a pedra (1961). Na narrativa, Bernardo Cedro se insurge contra a tirania de Nestor, de maneira similar a Osman Lins, que, em diversas oportunidades, se recusou a ceder às facilidades de quem comunga com o poder dentro e fora do campo literário. Nosso intento fundamental é perscrutar a similitude insuspeita entre Osman Lins e Lima Barreto.

A pesquisa consiste em um estudo comparativo das obras O beijo não vem da boca (1985), de Ignácio de Loyola Brandão, e A rainha dos cárceres da Grécia (1977), de Osman Lins, estabelecendo-se a partir de seu cotejo uma relação entre ausência e criação literária. Examinam-se os procedimentos narrativos no intuito de identificar a operação de uma espécie de “poética da ausência” em ambas as obras, cujos narradores-protagonistas, em suas trajetórias, tentam processar a perda de uma mulher amada. A pesquisa interessa-se especialmente pela figura desses narradores por serem eles, dentro da obra, escritores – ou seja, produtores de uma segunda narrativa no interior das narrativas em que se inserem –, dispondo dessa forma da palavra poética no esforço de superar a ausência das amigas perdidas. Os dois romances enriquecem-se mutuamente, conjugados em sua relação de dupla-escrita, e cada um deles é considerado enquanto uma estrutura que se organiza justamente a partir das ausências que enfrentam. O aporte teórico da pesquisa se faz com apontamentos de Giorgio Agamben, Roland Barthes, Maurice Blanchot, Jacques Derrida, dentre outros, bem como com o auxílio de estudos em geral sobre narratologia, aliando-os ainda a variados textos literários, na tentativa de se refletir acerca da linguagem poética e da forma do romance em suas múltiplas manifestações.

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