Teses e dissertações

Universidade de São Paulo

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O presente projeto constitui um estudo analítico-interpretativo do espaço literário e suas relações com as artes visuais em "Retábulo de Santa Joana Carolina", a quinta das nove narrativas do livro Nove, novena, de Osman Lins. Nossa hipótese de partida, relevando a importância do título e da conformação física do texto sobre a página, é a de que a narrativa tem uma gênese imagética, em que a visualidade determina a configuração do texto em sua relação com as artes figurativas. Como resultado disso, embora comumente o foco narrativo seja o elemento técnico mais valorizado, acreditamos ser o espaço, fixado como imagem em quadros, o articulador do foco narrativo. O trabalho estruturar-se-á em 4 capítulos, no primeiro dos quais procuraremos traçar, em linhas gerais, a idéia de literatura de Osman Lins, sua concepção do ofício do escritor, sua função cultural e social, basicamente (mas não somente) a partir da leitura de seus textos de ficção e de crítica; em seguida procuraremos delinear seu percurso narrativo, desde seu romance inicial, O Visitante até chegar a Nove, novena, e de modo muito especial, o "Retábulo da Santa Joana Carolina", cuja análise temática e estrutural constituirá o segundo capítulo. No terceiro capítulo procuraremos delinear os fundamentos de nossa hipótese inicial de interpretação do espaço como elemento estruturador e articulador do tempo e do foco narrativo no texto do "Retábulo", a partir da reflexão sobre a relação do espaço com os outros elementos narrativos. No quarto capítulo, recuperando algumas definições traçadas nos capítulos anteriores, buscaremos evidenciar as relações da configuração do espaço literário com as artes visuais, e procuraremos demonstrar como a representação discursiva do espaço - especialmente através da écfrasis literária - está intimamente ligada às técnicas e convenções de representação do espaço nas ) artes figurativas; concluindo, teceremos alguns comentários sobre o imbricamento da estética das artes visuais na estética literária, na obra de Osman Lins.

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Tipo

Tese de Doutorado

Ano

2005

Esta tese aborda aspectos ainda pouco analisados de A rainha dos cárceres da Grécia, último romance de Osman Lins: o narrador, a estrutura e a memória e, principalmente, o mundo grego no romance. Procura tratar também de outras questões, como a relação de ruptura e continuidade entre Avalovara e A rainha; a mulher na obra de Osman Lins; o levantamento e a análise de parte das inúmeras referências literárias no romance, a intertextualidade - citações ou paráfrases de textos de autores como Machado de Assis, Sófocles, Goethe e Poe - e sua articulação com estrutura e o tecido romanescos. É necessário desde agora ressaltar que nada disso Osman Lins revelou em anotações, artigos ou entrevistas. São descobertas feitas no convívio com o romance publicado. O romancista condenava a explicação exaustiva da obra pelo autor e manteve-se coerente com esse princípio. A rainha dos cárceres da Grécia, escrito e publicado durante a ditadura militar, põe em cena personagens excluídos da divisão do bolo do "milagre". Texto síntese da obra osmaniana, o romance interpreta e denuncia a chaga viva do cárcere Brasil

Esta dissertação tem por objetivo realizar uma leitura poético-filosófica do livro Marinheiro de primeira viagem, de Osman Lins, que se destaca por seu experimentalismo literário e por inovar o gênero "literatura de viagem". Embora seja um livro elaborado com base na viagem que seu autor fez à Europa, onde ficou seis meses, em 1961, ele não oferece a seus relatos as características que se costuma imprimir a esse gênero tradicional, em que o autor revela suas impressões e faz descrições das experiências vividas. Ao registrar suas memórias, ele cria uma estética literária inovadora por sua narrativa insubmissa, não-linear, marcadamente fragmentada, mas poética. Nos registros, o diálogo intertextual com a tradição cultural é intenso, e destacaremos esse intercâmbio como memória que a literatura tem dela mesma. Nessa relação entre textos, ganha relevo o mítico Orfeu e sua amada Eurídice, que potencializam a poética do livro e congregam o leitor ao texto para uma leitura hermenêutica com base na estética da recepção. Quanto ao aspecto filosófico do trabalho, encontramos apoio nas idéias hermenêuticoontológicas do filósofo Martin Heidegger e sua meditação sobre a obra de arte e a poesia, que contribuem para uma reflexão acerca do evento poético que unifica os fragmentos em Marinheiro de primeira viagem.

O romance Avalovara (1973), do escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), apresenta complexa elaboração da categoria narrativa tempo, por meio da exploração da técnica da simultaneidade narrativa. O enredo que mimetiza o movimento de uma espiral sobre o palíndromo sator arepo tenet opera rotas torna concorrentes no presente da enunciação diferentes temporalidades ficcionais, promovendo leituras pautadas pela revisão_ com impactos para o próprio tempo e memória de leitura _ da concepção de um tempo linear e homogêneo, como consolidado no senso comum. Com a visada plural sobre o tempo, a narrativa osmaniana provoca fecundos enraizamentos: na própria trajetória do escritor, cuja inquietude técnica conduz à renovação dos modos de narrar; na moderna narrativa ocidental, que se funda na ruptura com a situação espácio-temporal de cunho "realista"; na modernidade da literatura brasileira, em diálogo com a pesquisa formal, sobremodo nas inovações da poética do tempo, da geração paulistana de 22; no debate acerca do engajamento literário, que se colocou com o Golpe de 64. Do percurso de leitura crítica em busca desses enraizamentos e suas imbricações, evocados pelo texto osmaniano, o presente trabalho destaca a crítica radical que Avalovara tece à visada progressista e à concepção de história nela ancorada. A estrutura desse romance, ao conjugar no tempo literário aspectos tão díspares do tempo _ a atemporalidade mítica, a histórica e a subjetiva_ alcança construir uma noção de história sensível a vozes silenciadas e alienadas no passado e interessada em ecoá-las no presente, em afinidade com a guinada na Historiografia, proposta por pensadores como os da Escola de Analles e Walter Benjamin.

Em O fiel e a pedra, Osman Lins compõe seu romance sob a égide do romance regionalista brasileiro produzido por volta de 1930: latifúndio, exploração de classes, jagunços e coronéis e outros males. Todavia, mesmo ficcionalizando esses fatos sociais, o autor pernambucano se distancia de uma possível rotulagem normativa inconteste ao aliar seu romance às epopéias clássicas, bem como à poética sacro-hebraica e também às cantigas populares nacionais, encetando um grande diálogo entre seu romance e Ilíada, Odisséia, Geórgicas, Eneida, Os lusíadas, Sermão do Mandato, salmo bíblico e canções populares. Cruzam-se, desse modo, diferentes vozes poéticas advindas de variados espaços e trazidas de eras díspares entre si por considerável gama de citações em epígrafe, as quais, por si só, já despertam instigantes inquirições e expõem, mesmo que subliminarmente, o ideário do autor pernambucano. O dialogismo e a polifonia pressupostos por Bakhtin acham-se contemplados nesse portentoso intercâmbio de textos que tem o mérito de, dentre outros aspectos, nos auxiliar a melhor entender o romance osmaniano de 1961. Através das citações, percebemos a incorporação de conceitos epopéicos greco-romanos de caráter e destino sendo tomados de empréstimo à trajetória do protagonista nordestino, introduzindo na personagem o perfil heróico que a notabiliza.

Privilegia-se nesta dissertação a leitura e interpretação de Avalovara, romance de Osman Lins, sob a ótica de um tema universal da literatura o amor humano, seguindo-se as pistas deixadas pelo autor em entrevistas e analisando-se, de modo especial, sua configuração poética na narrativa. Tendo em vista o intenso conteúdo sexual do romance, estuda-se as várias dimensões do amor carnal, desde o uso político do corpo até seu aspecto mítico e cosmogônico. Para tanto, primeiro conceitua-se literatura erótica para depois contextualizar-se Avalovara na tradição ocidental no século XX. Em seguida, são apontadas suas fontes, que remontam à Bíblia e à tradição hindu do tantra. Unindo-as, Lins cria um amor concreto e carnal, capaz de levar os amantes a reencontrar a unidade original. Além disso, ao incorporar a geometria simbólica do tantra na estrutura do romance, Lins confere à literatura um poder mágico até então encontrado apenas em textos religiosos e místicos. De modo que esta dissertação, fundamentada também em teorias da narrativa e do romance e numa abordagem comparatista, tem sobretudo uma perspectiva crítica: mostrar a especificidade de Avalovara, dentro da tradição da literatura erótica e o seu papel no contexto da literatura brasileira, nos anos da ditadura militar.

Esta dissertação apresenta a edição fac-similar e diplomática em perspectiva genética de 53 notas de planejamento do romance Avalovara de Osman Lins. Esta seleção permitiu verificar quais foram os procedimentos empregados na composição do texto, da estrutura rigorosa do livro e o registro da utilização destas notas na obra publicada em 1973. A edição contempla documentos autógrafos, datiloscritos e impressos rasurados que, de modo geral, contêm um discurso indicativo. Com isso, é possível perceber certas particularidades relacionadas ao processo de criação do romance além de estabelecer novas propostas de estudo para a obra.

Osman Lins e o Suplemento Literário dO Estado de São Paulo (1956-1961): cotejos com sua obra ficcional apresenta um levantamento de temáticas observadas na produção não-ficcional do escritor pernambucano correspondente a um suposto período de formação do ficcionista como apresentado por Osman Lins em Guerra sem testemunhas , estabelecendo cotejos entre essas temáticas e sua obra ficcional madura. Considerando o referido levantamento temático, estabelecem-se análises das reflexões estéticas, éticas e morais do crítico Osman Lins, reflexões essas que se apresentam de forma muito lúcida e em diversos momentos extremamente combatente. As análises estabelecidas nesta dissertação procuram verificar laços existentes entre a produção crítica e a obra ficcional de Lins, aceitando-se como premissa que a obra crítica de um escritor ficcional possa apresentar reflexões do escritor a partir de suas observações críticas e julgamentos de valor. Esta dissertação tem como objetivos gerais promover a divulgação de uma produção não-ficcional de Osman Lins inédita em livro, bem como oferecer ferramentas de pesquisa a outros estudiosos da obra do escritor pernambucano. Não se pretende, de modo algum, esgotar as possibilidades temáticas do corpus desta pesquisa; tampouco se busca apresentar análises exaustivas dos temas estudados. Este é apenas o início de um trabalho que se acredita ser parte de um percurso longo e muito produtivo.

Osman Lins, escritor pernambucano, em 1970, ao ser convidado a assumir a cadeira de Literatura Brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília (atual UNESP), propõe a seus alunos experiências didáticas inovadoras para a época. Dentre elas constou um curso extracurricular, de História da Arte. Tal curso, gravado em fitas cassetes pelo escritor, hoje salvaguardadas no Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros, é composto de aulas audiovisuais que ilustravam o conteúdo programático, narrado por Osman Lins. Na presente pesquisa, esse material foi transcrito e parte das imagens recuperadas. Junto dos planos de aulas de Literatura Brasileira, o Curso de História da Arte, traz à luz um novo lado do escritor, que em sala de aula, permaneceu firme aos seus ideais literários.

Segundo o pensamento de Mario Praz, Umberto Eco, Anatol Rosenfeld e muitos outros, as estruturas da obra de arte refletem as estruturas epistemológicas de uma época, acompanhando a evolução das formas de organização sócio-históricas e revelando uma superestrutura de pensamento subjacente a tais formas de organização. No caso de Calvino e de Lins, embora haja inúmeras e enormes diferenças conceituais e estilísticas, é muito clara a passagem de uma visão de mundo (e consequentemente uma resultante forma estética) em que o presente (anos 40-50), embora complexo, é representável como continuidade histórica, a uma nova forma mentis em que a História do presente (anos 60-70), relativizada e desrealizada pelas mudanças técnicas, científicas, culturais, sócio-epistemológicas, é percebida como mosaico de eventos e discursos e, como tal, é representável esteticamente. Percebe-se que as estruturas convencionais (contos e romances), unitárias, íntegras até meados dos anos 60, dão lugar, a partir de 1965 (Calvino) e 1966 (Lins), a uma preferência pelas formas fragmentadas, modulares, recombináveis, hipertextuais, em que os módulos podem ser manipulados pelo leitor para multiplicar as narrativas. Nessa fase da literatura combinatória surgirão obras-primas como Le città invisibili ou Pentágono de Hahn. Essa forma modular combinatória dos anos sessenta evoluirá, nos anos setenta, para uma forma mais complexa: o hiper-romance, cuja estrutura será ainda fortemente amparada na matemática e na geometria. Mas o hiper-romance, além dos elementos combinatórios articuladores da arquitetura romanesca, traz em seu cerne outros elementos fundamentais: a metanarrativa, a busca de um sentido para a representação (do amor e da morte, dos conflitos) e como representação dessa busca; a configuração narrativa do conhecimento como multiplicidade de temas e discursos; a forma da representação como multiplicidade de narrativas realizadas, realizáveis e potenciais; a busca da unidade dos fragmentos na compreensão de uma única Unidade possível: a do mosaico como resposta possível ao labirinto.

Ao escrever Avalovara, Osman Lins manifestou que diversas leituras foram convocadas para sua construção. Dessa forma, a obra estabelece um diálogo com diversos textos, sendo que alguns estão preservados no Fundo Osman Lins do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e da Fundação Casa de Rui Barbosa. Assim, ao investigar o arquivo do escritor e trabalhar com a ideia de que o ato de escrever é antecedido por uma leitura e uma pesquisa, esta tese apresenta como alguns livros da biblioteca do escritor fazem parte do processo criador do romance. O estudo configura-se como uma análise e interpretação crítica deste material, apoiando-se na correlação de leituras, notas marginais e documentos do processo criador, observando ainda alguns aspectos de assimilação, transfiguração e seus desdobramentos em Avalovara. Com isso, sobrepostos aos textos impressos, as anotações, grifos ou apontamentos das leituras de Osman Lins se convertem em manuscrito, reforçando a importância da abordagem dos documentos do processo e a presença de um diálogo intertextual que interessa tanto à Literatura Comparada como à Crítica Genética. O trabalho apresenta ainda uma edição das anotações autógrafas: transcritas, classificadas e organizadas. Conteúdo que fornece um percurso de parte da formação do leitor/escritor, seus interesses estéticos e literários e como esta marginália oferece novas perspectivas de estudo para o conjunto de sua obra.

Esta tese é um estudo sobre o ensaio de Osman Lins, Guerra sem testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social. Por se tratar de um livro que teve duas edições diferentes, foi feito o cotejamento entre elas e detectada as alterações para a segunda publicação. Das buscas documentais de Guerra sem testemunhas foi possível acessar suas fontes primárias, o que revelou a existência de Diários, que registram a elaboração da obra. Na abertura desta, está posto um desafio ao leitor; lê-lo a partir das epígrafes que aparecem no início. As duas primeiras pertencem ao poeta Deolindo Tavares e as duas outras, ao filósofo Jean-Paul Sartre. Os versos do poeta pernambucano têm como personagem Willy Mompou, que Osman Lins fez migrar para o corpo do ensaio, transformando-o em seu parceiro ao simular uma narrativa que percorre o texto. As do pensador francês espraiam-se pela escrita, em que o diálogo mantido por Osman Lins acontece a partir da fonte dessas duas menções, de Que é a literatura?. Neste, as questões acerca do escritor e da literatura servem de ponto e contraponto para Lins apresentar a sua própria visão sobre os temas em questão na obra. Em realidade, esses dois autores, Deolindo Tavares e Jean-Paul Sartre, por essas contribuições, foram analisados como os dois polos a sustentar o ensaio, o poético e o conceitual. Por essas peculiaridades estilísticas, o escritor pernambucano ocupa o espaço potencializado pelo próprio gênero. Dentro de uma perspectiva relacional, em que se inserem essas reflexões, um estudo mais detalhado sobre Deolindo Tavares justifica-se por se tratar de um poeta desconhecido, o que não acontece com Sartre, intelectual francês de grande projeção internacional e com reconhecida presença no Brasil dos anos 1960 e 1970. Também foi dada relevância para as meditações e as práticas de inspiração cartesiana, que Osman Lins deixa transparecer em seu trabalho.

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