an Lins sob a perspectiva das paisagens tendo em vista seu aspecto anacrônico. O espaço criado na obra reivindica o momento da Ocupação Holandesa no nordeste brasileiro do século XVII sobreposto ao contexto do então corrente século XX. Considerando o projeto de colonização flamenga bem como o seu legado iconográfico a partir das pinturas de paisagens do primeiro paisagista das Américas, Frans Post, procura-se uma leitura crítica da concepção histórica e literária na obra de Lins. Para isso, parte-se do olhar sobre o romance como forma e conteúdo, com suas raízes em obras prévias do autor, como Avalovara (1973) em que tempo e espaço são dimensões altamente elaboradas e problematizadas a partir da correlação estabelecida com formas geométricas e as noções de finito e infinito. Esta relação, por sua vez, propicia uma abordagem histórica dialética e anacrônica à maneira benjaminiana, ou seja, a contrapelo da oficialidade histórica e da progressão meramente cronológica. Além disso, a preocupação metaliterária bem como a constante transgressão que mistura o passado e o presente, o real e o ficcional também proporciona uma leitura sobre a "literatura" como via de mão dupla no que tange à relação com a "realidade" histórica. Desta forma, a produção de "imagens" no texto torna-se fundamental para a presente proposta de leitura ao ser abordada sob o aspecto paisagístico. Para entender a "paisagem" parte-se do "espaço" clássico até a sua "autonomia" na Idade Média quando a paisagem parece assumir o protagonismo para além da submissão à retórica. Os conceitos relacionados à mimese e alguns de seus desdobramentos - como nas leituras de Erich Auerbach, Luiz Costa Lima, Jacques Ranciére e Anne Cauquelin - a partir da afirmação aristotélica de que "a arte é a imitação da natureza" contribuíram para a reflexão proposta de modo a evidenciar a relação paisagem/natureza observada por Georg Simmel em A filosofia da paisagem. Paralelamente às grandes navegações, a paisagem surge com força nas artes e se torna, entre outras coisas, instrumento de discurso e "testemunho" sobre os novos territórios. No Brasil, a permanência dos holandeses por vinte e quatro anos no Nordeste (1630-1654) contou, durante os últimos sete anos, com a administração do Conde Maurício de Nassau e sua comitiva, da qual participaram artistas, dentre os quais Frans Post, "pintor de paisagens" cuja incumbência era "fundar? a paisagem brasileira. Deste modo, o legado imagético e principalmente paisagístico é nota dominante quanto a este período da história brasileira. Por fim, busca-se observar os efeitos críticos de leituras possíveis dada a combinação dos tempos e discursos que resultam no anacronismo instaurado no romance.