Teses e dissertações

Universidade de Brasília

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Esta pesquisa tem a finalidade de analisar a representação do leitor em A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, resgatando os fundamentos da estética da recepção, ademais de realizar uma reflexão acerca da formação de leitores críticos, a partir dos referenciais de leitor que a Teoria Literária e a obra ficcional ora em estudo preconizam. A rainha dos cárceres da Grécia é um romance que propõe, em seu discurso literário, a interação entre leitor e texto. Essa relação exige uma participação ativa do receptor na construção do significado da obra. Esse leitor, que interage e desenvolve sua capacidade de criticar e relacionar as leituras, pode começar a ser formado no ensino médio por meio do ensino de literatura.

Este trabalho tem como objetivo a análise do romance A Rainha dos Cárceres da Grécia, de Osman Lins, procurando perceber de que modo a ironia que fundamenta seu procedimento formal e estético articula uma forte negatividade crítica. Essa negatividade articulada por meio da ironia, em muitas das diversas possibilidades e manifestações que esta permite, se dirige a várias esferas. Entre outros temas, em uma rara capacidade de abrangência e problematização, o romance de Osman Lins trabalha questões fundamentais ligadas ao sistema literário brasileiro; à literatura e aos problemas de representação; à crítica literária e aos complexos problemas políticos e culturais que a envolvem; ao estado-nação, à identidade de seus habitantes e à segregação social; à indústria cultural e aos meios de comunicação de massa; aos mecanismos ideológicos de dominação, junto à hipertrofia da razão instrumental; ao período ditatorial em que está inserido o livro e, de forma ampla, a questões que remetem ao quadro internacional, como o apagamento da história, a internacionalização do capital e a expansão de mecanismos hegemônicos e imperialistas bem como a posição peculiar e própria ao Brasil dentro desse panorama.

Nesta pesquisa, verifica-se como está representada a velhice feminina, observando-se personagens femininas em suas trajetórias para e na velhice, em narrativas da literatura brasileira contemporânea, percebendo-se como se delineiam os espaços possíveis ocupados por elas e, nestes, os conflitos geracionais, a exploração e o abandono, a morte, o desejo sexual, a degradação de seus corpos e o silenciamento ou o aparecimento de suas vozes, pois, na medida em que se avança na idade, diminui-se a velocidade dos passos e vai-se perdendo o poder de voz. Apresentadas em etapas diferentes de vida, em condições físicas e sociais diversas, elas protagonizam narrativas cujo enfoque é a mulher frente às perdas, que acompanham o envelhecimento, e à solidão. Resta-lhes a memória. Neste contexto, analisamse e elementos espaciais e temporais e seus significados, bem como objetos presentes, que são também narradores, para compreender as relações dessas mulheres com o outro, que as olha, ou narra; e consigo, no intuito de entender, enfim, o que essas mulheres têm a mostrar/esconder e o que elas têm a dizer e como o fazem (se falam ou quando falam por elas). Nesta perspectiva, a análise das estratégias discursivas nos processos de narração evidenciam as construções estéticas para a produção de sentidos. Deste modo, faz-se uma leitura da localização da mulher velha em nossa sociedade, estabelecendo-se relações entre sua visibilidade, seu espaço físico e enunciativo, na intimidade e na vida social, em que o corpo degradado é alvo de preconceito, no âmbito literário no qual este é centro das discussões através de suas representações.

Nesta dissertação, propomos uma compreensão do romance Avalovara, de Osman Lins, à luz da categoria estética da abertura, seguindo as problematizações de Umberto Eco. Procuramos destacar alguns pressupostos destas, de modo a indicar, no romance, instanciações destes bem como exemplos de aberturas. Indicamos, enfim, possibilidades de interpretação, sendo que o romance é fortemente constituído de alusões a perspectivas teóricas distintas, as quais, também, abrem-no.

Este estudo apresenta um diálogo entre obras de escritores brasileiros atuantes na década de setenta, durante a ditadura militar brasileira pós-64, e livros de escritores anteriores cujas obras estão situadas no âmbito do século XX. Procura-se expor a relação produtiva, intrínseca à sua realização estética, formal e temática, que esses romances estabelecem entre si, e seu significado amplo em termos de crítica e historiografia literária. Os escritores abordados são: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Antonio Callado, Osman Lins e João Ubaldo Ribeiro. A base teórica fundamental para o estudo dessas relações está baseada na obra de Erich Auerbach e de estudiosos brasileiros, como Antonio Candido.

A presente dissertação propõe a análise dos recursos estilísticos e narrativos utilizados na representação da ditadura militar brasileira no romance Avalovara (1973), em que Osman Lins condensa toda sua força criadora e sua postura crítica, na realização de obra que homenageia o rigor do ordenamento cósmico, sem abrir mão do compromisso ético de resistência à opressão de seu tempo histórico. Servirão de bússola para esta investigação as funções textuais do ser sobrenatural Iólipo, mais completa alegoria da opressão e da esterilidade militares.

Esta dissertação propõe-se a analisar a narrativa "Um Ponto no Círculo", do escritor Osman Lins, dada a sua pertinência para a compreensão de alguns elementos e temas da poética do autor, os quais, após marcarem presença em Nove, Novena (1966), espraiam-se para as obras seguintes, como é o caso de Avalovara (1973). Investigando o tema da criação artística, dentro da qual o ato de escrever emerge com todo o vigor, esta pesquisa visa sondar tanto o aspecto estrutural do conto, que exibe um molde rigorosamente geométrico e planejado, quanto a dimensão que remete ao discurso sobre a arte, representado pelas várias menções dentro do texto à atividade do artista, bem assim pelo tratamento ritual e poético da palavra em sua materialidade e musicalidade, num questionamento permanente sobre o ato de criar e seu reflexo na arena da vida. Nessa configuração, tanto na estrutura quanto na linguagem tem-se um exercício de busca, de questionamento permanente que é não somente o do artista, mas também o do homem ante o mundo: ao se perseguir o rigor da arte, os movimentos precisos, o equilíbrio entre o informe e o ordenado, também se procura a resolução dos conflitos humanos, da transitoriedade da vida, se busca a inscrição numa ordem, que é a do cosmos e a da relação com o outro – as pessoas e o mundo que nos cercam.

Trata-se de uma investigação acerca da função da angústia, operador clínico de grande importância na metapsicologia psicanalítica. A angústia é descrita de Freud a Lacan dentro do registro econômico, ora transbordamento, ora sinal e preparação. Ao mesmo tempo, representa o fracasso do psiquismo em fazer frente à exigência pulsional e se constitui como trabalho de simbolização. Sua função, portanto, seria de mediação, em sua vertente de pulsão de conquista (Bemächtigungstrieb). É uma função antecipatória, em que a angústia consiste num trabalho de metabolismo do excesso pulsional. A literatura é tomada como campo de investigação desse trabalho, sob a suposição de que pode condensar experiências fugazes e permite recolher testemunhos do inconsciente. Ela serve a esta pesquisa pela virtude de transformar funcionamento em estrutura, em sua natureza estrutural e constitutivamente alegórica. A angústia, que não faz discurso mas o exige, é reencontrada na forma alegórica do desassossego, pela qual ela pode se inscrever no discurso, constituir-se escrita. Esta escrita corresponde à formalização dos impasses representacionais que concernem à vida pulsional e ao aparelho psíquico em sua tarefa de simbolização. O desassossego é aqui estudado na obra Avalovara, de Osman Lins. Tempo e espaço, dimensões fundamentais da representação romanesca, nessa obra são levados aos seus limites pelo recurso aos mais variados expedientes estilísticos. De modo geral, o aperspectivismo de tempo e espaço, em Avalovara, constitui a grande tensão que o texto pretende sustentar, entre ordem e anarquia das formas, entre conquista e resistência do que pulsa nas palavras, o mecanismo de articulação em que os impasses funcionam de modo a configurar o desassossego da obra. Seu cerne, assim o propomos, não é outra coisa senão a própria angústia. Sua função é esta, que não sejamos surpreendidos em um mau encontro como real, pela visitação anterior ao desassossego de nossa condição não esquecida.

Estudo comparativo entre Avalovara (1973), de Osman Lins e as obras de Lewis Carroll, Aventuras de Alice no país das maravilhas (1865) e Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá (1871), com ênfase nos aspectos intertextuais não necessariamente explícitos, mas repletos da carga simbólica que tipifica as obras. O aporte teórico acerca da Literatura Comparada e Intertextualidade se alicerça em textos de Tania Carvalhal, Antoine Compagnon, Tiphaine Samoyault, Michel Schneider, Sandra Nitrini e Mikhail Bakhtin. Soma-se a ele vasta leitura na fortuna crítica de Osman Lins e Lewis Carroll, principalmente em textos que tratam das três obras que integram o corpus da tese. Utiliza-se o Paradigma Indiciário, formulado por Carlo Ginzburg no que concerne ao modo como são observados dados a serem avaliados. São analisados símbolos coincidentes que aparecem nas obras dos dois autores, tais como o unicórnio, o grifo, o sonho, além de contraposição das personagens e Alice. Aprofunda-se estudo acerca da imagem do espelhamento – nas acepções de inversão, reflexo e mise-en-abyme, este último a partir da obra The Mirror in the Text, de Lucien Dällenbach e também a imagem do atravessamento, que na obra aliceana é representado na figura do espelho através do qual a menina cruza alcançando espaço diverso e, no romance osmaniano, se manifesta pelo uso de limiares reais ou fantásticos como a porta, o tapete, e metáforas acerca do ato de atravessar, incluindo-se aí a ideia de intertextualidade como representação também do cruzamento de um texto pelo outro em ilustração metafórica do exercício intertextual. Breve análise espacial das obras com vistas a sondar o uso do insólito como mecanismo de manifestação da categoria do fantástico, através de contribuições das obras de Umberto Eco, Tzevtan Todorov, Mircea Eliade e outros.

A Literatura Brasileira é uma "literatura de funcionários públicos", nos diz Carlos Drummond de Andrade, tratando do duplo ofício de literato e burocrata exercido por vários de nossos escritores. Muitos desses escritores também funcionários incorporaram a suas criações ficcionais a figura do funcionário público, quase sempre por um viés crítico e desencantado. Nossa pesquisa analisa o tema do funcionário público na narrativa curta de ficção brasileira, do período da Primeira República até a atualidade, utilizando princípios metodológicos da tematologia comparatista e teorias do foco narrativo. A partir das categorias do funcionário-narrador e do funcionário-narrado, são estudadas as especificidades de um maior ou menor distanciamento entre narrador e protagonista, quanto a formas mais humorísticas ou dramáticas de representação. Ao final, um panorama dos subtemas relacionados ao tema do funcionário demonstra que a sua representação nos contos privilegia as disfunções da burocracia e de seus agentes, nas diferentes fases da sua vida profissional.

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Tipo

Dissertação de Mestrado

Ano

2016

A proposta deste trabalho é a de analisar a tradução para o inglês do romance Avalovara, do escritor pernambucano Osman Lins, assinada pelo tradutor norte-americano Gregory Rabassa (1979). Romance enigmático, matematicamente arquitetado pelo autor brasileiro, Avalovara apresenta uma enorme gama de interpretações e possibilidades de leitura. Tendo isso em vista, este trabalho tece uma análise a partir de trechos selecionados, tomando por auxílio elucidativo as correspondências trocadas entre Lins e Rabassa, constantes no arquivo do autor, na Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro-RJ. A análise também perpassará o olhar sobre os índices morfológicos, paratextos e textos de acompanhamento, entre outros aspectos editoriais da tradução, a partir de suas três edições publicadas, com o intuito de observar sua recepção na cultura de chegada. Para tanto, lançaremos mão dos conceitos propostos por Antoine Berman (1995) e Marie-Hélène Torres (2011), que tratam, respectivamente, da análise crítica de tradução e da análise morfológica da tradução. Em uma outra perspectiva, diante das dualidades inerentes à Tradução, proporemos, em paralelo ao texto científico, um olhar autorreflexivo, metalinguístico, expondo “percursos e revelações” da execução deste trabalho, rememorando o próprio estilo osmaniano – “viagem e relato de viagem”.

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Tipo

Dissertação de Mestrado

Ano

2017

O objetivo maior desta dissertação é apresentar e constatar a concepção e os procedimentos da escrita de Osman Lins, em seu romance Avalovara, representação da plenitude de seu engenho espiritual, como os de uma obra cosmogônica e unificadora: a defesa do ofício do escritor, da tendência de uma arte sem fronteiras, mesclada a outras, e da inclinação ornamental, privilegiando a alegoria por intermédio da união binária de mecanismos poéticos e retóricos, da junção de ficção, tempo histórico e reflexão teórica, narrativa, realidade e especulação filosófica, figuração e sentido próprio, numa rede infinita de significados ubíquos e isotópicos. Os recursos teóricos predominantes constam das reflexões do próprio autor, contidas em Guerras Sem Testemunhas e em entrevistas publicadas em Evangelho na Taba, dos estudos sobre alegoria e ornamentações retóricas, de João Adolfo Hansen, e dos simbolismos livrescos e da escrita, considerados, na perspectiva do trabalho, também como alegóricos, e ainda de aspectos da literatura europeia e da Idade Média Latina, analisados por Ernst Robert Curtius. A exposição da formulação estética de Osman Lins, abordada inicialmente, é relacionada às caracterizações de alegoria, expostas por João Adolfo Hansen, em suas configurações criativas e interpretativas e na designação de sua tipologia, sendo comparadas com diversas formas figuradas ao longo da Idade Média latina e europeia, através do estudo de E. R. Curtius. A escrita osmaniana é, assim, apresentada em conexão com a tradição literária ocidental, em sua exuberância engenhosa e em suas relações sagradas e míticas, revelando-se como forma privilegiada de conhecimento.

Esta dissertação propõe analisar as duas obras de contos publicadas por Osman Lins – Os Gestos (1957) e Nove, Novena (1966) –, com objetivo de destacar o nítido processo de amadurecimento formal compreendido nesse período, além da consciente busca do escritor em superar limites: os seus, os da literatura e os da compreensão do mundo. Para tanto, divide-se este estudo em três partes: i) a concepção material da escrita para Osman Lins; ii) o silêncio, a angústia e a solidão em Os Gestos; e iii) o equilíbrio entre geometria e desordem em Nove, Novena. Sobre as obras, são apresentadas também informações sobre o contexto e a recepção referente a cada uma. Uma crítica direcionada ao primeiro livro de contos contrastou entre os recursos da pesquisa. A matéria de Eduardo Portella, publicada no Diário de Pernambuco, em 1958, manifesta seu apreço ao estilo conciso e eloquente de Os Gestos, destacando as nítidas qualidades de narrador de Lins, no entanto, por outro lado, denuncia na obra uma carência de pesquisa no sentido experimental, de novidade em sua estrutura. Visto que, com Nove, Novena, Osman Lins cruza um limiar de sua obra, assinalado pelas perceptíveis conquistas técnicas do livro, responsáveis pela difusão do seu caráter inovador, é inevitável o pensamento de que a crítica de Portella possa ter exercido alguma influência na postura de pesquisador ativo adotada por Lins a partir de Nove, Novena, o que não pôde ser comprovado de fato. Após investigar algumas marcas de contraste e continuidade de parte importante do projeto literário de Osman Lins, concluiu-se que há, sim, processos de ruptura entre as duas obras, porém nota-se também a propagação de temas caros ao escritor, que são potencializados pelos avanços empreendidos na nova obra.

No romance Avalovara (1973), o escritor pernambucano Osman Lins (1924 – 1978) se apropria de símbolos do imaginário bíblico, mítico e religioso para formar o leito que conduz o seu invento romanesco. Como o próprio autor declarou em entrevistas e ensaios, Avalovara dialoga com o poema A Divina Comédia (1304 – 1321), do florentino Dante Alighieri – eixo e bússola desta tese. Partindo desse diálogo intertextual, anotamos as interseções das tramas e dos múltiplos temas nelas enfeixadas; as concepções estruturais das duas obras, ambas assentadas na numerologia do mundo antigo; as relações imagéticas, simbólicas e alegóricas; e as ressonâncias de ordem existencial. Em termos de estruturação, recorremos à seguinte secção: são três os amores de Abel e três as partes em que se divide a Commedia. No esquema ilustrativo, associamos, respectivamente, ao Inferno, Purgatório e Paraíso, Cecília, Roos e , alegoricamente representadas, segundo o conceito que propomos como poética da Queda, à luz da doutrina existencialista de Jean-Paul Sartre. Explicamos que, em Avalovara, em sentido contrário ao disposto no arco Paraíso-Degredo, inverte-se a rota mítica, encenando-se o caminho reverso à expulsão do Éden, por se partir da figura da Queda para o Jardim disposto no tapete dos amantes. Pela poética da Queda é justamente a falta que impele Abel ao “ato de buscar”, o que o filia à frágil e controvertida condição do homem moderno, com seu porvir incerto e afastado do sagrado, sem refúgio e redenção. No entrecruzamento entre tradição e inovação, a título de ilustração e confirmação de nossa hipótese, relacionamos obras modernas, como Guernica, de Picasso, e Angelus Novus, de Paul Klee, a situações narrativas e personagens avalovareanos e dantescos. Além de Sartre, os teóricos que nos acompanham são Walter Benjamin, George Steiner, Paul Zumthor, Eric Auerbach e Giorgio Agamben. Ao aderir ao horizonte de banimento, ruptura e exílio, Avalovara, pela poética da Queda, parte da narrativa bíblica do Gênesis, como núcleo irradiador de uma rede de símbolos e da própria investigação do nascimento da linguagem, para delinear um tempo – a contemporaneidade – atravessado por buscas, instabilidades e incertezas. Desse modo, o romance se aproxima da filosofia de Jean-Paul Sartre: a radicalidade da liberdade e da angústia como condição da existência, o homem como medida e futuro do homem.

Prioriza-se nesta tese sobre A Rainha dos Cárceres da Grécia de Osman Lins, a identificação do conjunto de obras insertas no romance. Com este intuito, foi realizado um rastreamento dos autores e obras citados por Lins. Tendo em mente que a obra centraliza-se no entendimento textual (leitura), no processo de remissão à outras obras (intertextualidade) e na compreensão do fazer literário (escrita), foram eleitos cinco temas fundamentais na construção de um romance. Em um esforço de síntese, as temáticas eleitas para exegese foram abrigadas em cinco capítulos. Em A Situação Narrativa (capítulo 1) as camadas narrativas foram desmembradas nos três gêneros narrativos que explicam como a elaboração da obra: o diário, o ensaio e o romance. A complexidade da intriga conduziu ao estudo do Enredo (capítulo 2) no qual foi pensado o papel do narrador, e do autor. Na pesquisa sobre O Espaço (capítulo 3) foram analisados o conceito de dobra e fusão, além da elaboração de mapas demarcando o percurso dos personagens pelo espaço do romance (apresentados nos anexos). Na abordagem sobre o Tempo (capítulo 4) foi esmiuçado a confecção do diário (com elaboração do calendário dos dias escritos em cada ano) e a importância da estrutura numérica na divisões do texto (com elaboração de tabelas que revelam a harmonia alcançada do ponto de vista do planejamento) . No último capítulo esta pesquisa trata dos Personagens (capítulo 5) que foram subdividivos em cômicas e trágicas, um personagem de personagens e personagens históricos. Na conclusão foram retomados os principais elementos. Por fim foi acrescido aos anexos uma lista com as obras citadas pelo professor de acordo com sua aparição no diário e notas de pesquisas sobre os autores citados.

Considerada por muitos como um marco na configuração da estética pessoal de Osman Lins e, também, como um salto na carreira do escritor, a obra Nove, Novena, lançada em 1966, é composta por nove narrativas que rompem com a tradição literária, ao problematizar questões referentes às categorias da narrativa. Além do uso de símbolos como sinais indicativos representando uma junção ou uma distinção de narradores, há também a transposição da linguagem iconográfica para a literatura, exercida por Lins em sua referida obra, como técnica narrativa. Em se tratando de “Conto Barroco ou Unidade Tripartita”, narrativa sobre a qual o presente estudo se debruçará, essa transposição realiza-se em dois diferentes âmbitos, que serão os eixos investigativos desta dissertação. A saber: 1) o nível sintático/estrutural, que diz respeito à composição do texto literário e ao modo como a história é narrada e 2) o nível imagético/espacial, que versará sobre a expressiva condição imagética do texto e sua relação com as outras áreas do conhecimento.

Apesar de não ter priorizado a escrita de obras para crianças, Osman Lins dedicou-se à criação de uma narrativa infantil na qual reuniu importantes personagens que também fizeram parte da sua própria experiência literária. Em Capa-Verde e o Natal (1967), peça teatral mais tarde adaptada para conto e publicada sob o título de O Diabo na Noite de Natal (1977), Osman Lins envolve em um conflito personagens de diversas esferas culturais, dofolclore à literatura sacra, em busca de um mesmo objetivo. Ao analisar a obra, lançamos um olhar mais atento a seus aspectos carnavalescos, na tentativa de confirmar a nossa hipótese de que a carnavalização literária, no conto de Osman Lins, é utilizada como estilo e recurso que promove tanto o estreitamento na relação entre a literatura para a infância e as culturas (popular, erudita, de massa) quanto a possibilidade de ampliação da capacidade de interpretação da criança enquanto leitora – de livros e do mundo.

Há muito a imaginação é alvo de reflexão de pensadores e teóricos em acepção filosófica, antropológica ou literária, sendo sua essência ora atrelada ao engano, como em Pascal, ora à potência criativa, como em Voltaire. Assentindo esse último entendimento como o mais adequado ao projeto literário de Osman Lins e conhecendo a proposta do escritor de enriquecer o campo do imaginário através de sua ficção, intenta-se nesse estudo desenvolver uma leitura de A Rainha dos Cárceres da Grécia pautada na investigação de três camadas narrativas nomeadas pelo próprio Lins, sendo elas: a do real-real, a do real-imaginário e a do imaginário-imaginário. O percurso da dissertação partirá da análise do microconto “Exercício de Imaginação” também de autoria do escritor pernambucano, em que se lê simbolicamente o processo de criação de um texto literário, e seguirá o processo de composição do imaginário no romance – desde a reunião dos elementos, passando pela manipulação desses e chegando ao estado final da narrativa -, valendo-se primordialmente do apoio teórico de Gilbert Durand e Wolfgang Iser.

Na narrativa Retábulo de Santa Joana Carolina (1966), do escritor pernambucano Osman Lins (1924 – 1978), a vida da personagem Joana Carolina é apresentada por meio de uma visão asperspectivista, transformando-se em um espaço simbólico poético e rigorosamente estruturado por ornamentos e estações narrativas. Fundem-se histórias e personagens entrelaçando-se passado, presente e futuro. Nesse sentido, a presente tese abarca a análise de Retábulo de Santa Joana Carolina, enfatizando a função dos ornamentos, o percurso de Osman Lins como divulgador da tradução de sua escritura, bem como aspectos gerais das traduções de Nove, novena em francês, alemão, italiano e inglês. Além disso, refaz, por meio das cartas enviadas por Osman Lins ao Japão, o caminho em busca da tradução japonesa. O aporte teórico acerca da narrativa e da tradução se alicerça em textos de Sandra Nitrini e Henri Meschonnic. Integram-se ainda à investigação largas leituras na fortuna crítica de Osman Lins. Na última parte desta pesquisa, consta também uma análise da tradução de Retábulo de Santa Joana Carolina e os percursos que se fizeram necessários para a compreensão da narrativa em língua japonesa. Portanto, tais caminhos visam a entender a obra de Osman Lins no campo analítico, bem como no percurso desdobrado para a tradução no ocidente e na tradução em japonês.

Esta dissertação tem por objetivo central apresentar um diário de releituras de certa narrativa de Osman Lins, “O pássaro transparente”. Conto de abertura de Nove, novena (1966), “O pássaro transparente” carrega muitas das características literárias que fizeram Osman Lins afirmar ter chegado à plenitude escritural com este livro. Portanto, lança-se o presente trabalho à investigação de como se manifestam nessa narrativa muitas das preocupações literárias do projeto de Lins, sobretudo o uso da geometria aliada à teoria da narrativa. Para tal, o caminho percorrido ao longo deste ensaio terá início pelo aparecimento do número no engendramento estrutural do narrador, do espaço e do tempo em “O pássaro transparente”. Mediante o câmbio de foco narrativo (de externo para interno), o narrador articula nove diferentes cenas ou “quadros”. Cada quadro é composto por duas manifestações de foco narrativo, respectivamente externa e interna. Para cada quadro, há um espaço e um tempo. São enfocadas, no desenvolvimento do trabalho, as três categorias narratológicas para que, afinal, se fundamente a afirmação de que há, em “O pássaro transparente”, uma relação de fractabilidade e de micro/macro imagem com Nove, novena . Como o objetivo não é levantar tais questões sem pensá-las dentro do contexto da obra de Osman Lins, far-se-ão presentes citações de diversos outros textos do pernambucano (ora ficcionais, ora ensaísticos), sobretudo A rainha dos cárceres da Grécia , romance que inspirou tanto a forma desta dissertação quanto seu conteúdo.

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