Teses e dissertações

Universidade Federal de Goiás

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Nesta pesquisa propomos-nos, em um primeiro momento, evidenciar as preocupações de Osman Lins com a indústria cultural, com o ato de escrever, com a situação do escritor e sua relação com a sociedade. Em seguida, abordamos alguns dos principais aspectos da poética de Osman Lins, tais como a influência das artes medieval, gótica e barroca em sua obra, assim como as confluências e divergências com o Nouveau roman. Além disso, fizemos uma rápida explanação sobre as obras de Osman Lins seguindo a divisão estabelecida pelo autor, isto é, a fase da procura, a fase da transição e a do encontro. Em um segundo momento, examinamos alguns aspectos teóricos da narrativa moderna e, particularmente, da narrativa metaficcional, a saber: a autoreflexibilidade, a mise en abyme, a questão do leitor e da leitura, a fragmentação do texto, a ruptura dos gêneros, além de alguns procedimentos narrativos que participam da construção desse tipo de narrativa. Essas partes preliminares de nosso trabalho constituíram etapas importantes para atingirmos nosso objetivo mais importante que é examinar quais são as estratégias narrativas e discursivas empregadas por Osman Lins no processo de construção de A rainha dos cárceres da Grécia. Assim, passando da teoria à prática, em um terceiro momento, analisamos as ocorrências da instância metanarrativa em Nove, novena e, principalmente, a metaficcionalidade em A rainha dos cárceres da Grécia, procurando evidenciar como as formas de manifestação desses fenômenos aparecem nas obras das duas últimas fases da narrativa de Osman Lins de formas distintas.

Este estudo se propõe a analisar representações do espaço em algumas narrativas ficcionais de Osman Lins, especificamente nas obras Os gestos, O visitante, O fiel e a pedra e Nove, novena. A partir da análise realizada nessas obras, pela ordem cronológica de suas publicações, observamos a existência de uma linha progressiva nas transformações do espaço ficcional dessas obras. Tendo em vista o fato de, comumente, Nove, novena ser considerada como marco fundamental na transformação da poética de Osman Lins, em relação às suas obras da primeira fase, devido ao seu forte teor de inovação e de experimentação, essa narrativa exigia uma abordagem diferenciada para a análise do espaço Diante desse fato, fomos levada a estruturar nosso estudo em duas partes. Na primeira parte, analisamos, separadamente, as obras da primeira fase: Os gestos, O visitante, O fiel e a pedra. Nestas obras, verificamos que espaços, ambientes e atmosferas apesar de intimamente ligados às impressões subjetivas das personagens, já apresentam aspectos singulares na sua construção. Na segunda parte, analisamos Nove, novena, agrupando os espaços em três tipos que denominamos espaços sobrepostos, espaços justapostos e espaços complementares. Tal atitude se explica, porque, embora em Nove, novena os espaços também se relacionem às impressões subjetivas das personagens, as representações destes apresentam características mais específicas sejam elas decorrentes de sua relação com as personagens, ou decorrentes da organização da estrutura da narrativa. Para o desenvolvimento deste estudo, apoiamo-nos, nas reflexões de Anatol Rosenfeld e de Josef Frank, no que diz respeito à espacialização da narrativa, como também em estudos de Bakhtin, Genette, Deleuze, Marcel Martin e outros autores que abordam aspectos relacionados à categoria do espaço. Nesse sentido, a partir de um tema restrito — a configuração do espaço — e motivada por questionamentos de ordem teórica sobre esse tema, percorremos as referidas narrativas de Osman Lins (contos e romances) com o objetivo de realizar uma análise que apontasse caminhos para a compreensão e apreensão de alguns dos muitos recursos utilizados por esse autor na elaboração do espaço romanesco de suas narrativas e, por meio desta pesquisa, de contribuir com novas leituras para uma abordagem da forma espacial do romance moderno.

Esse trabalho trata de dois aspectos presentes ao longo da trajetória narrativa de Osman Lins: a leitura e a escrita. Esses aspectos são percebidos tanto no nível temático quanto no nível da construção de personagens em quatro obras desse escritor: O visitante (1955), Nove, novena (1966), Avalovara (1973) e A rainha dos cárceres da Grécia (1976). O objetivo é, assim, verificar como Lins aborda a leitura e a escrita em suas narrativas, sob a perspectiva de um adensamento desses temas do primeiro ao último romance. Para realizar esse estudo de cunho bibliográfico, optamos por dividi-lo em duas partes. Na primeira, composta por dois capítulos, abordamos a leitura, o leitor, a escrita e o escritor em textos teóricos, críticos e sobre a história da leitura e da escrita, bem como obras literárias que representam esses temas. Nesse sentido, nos apoiamos em estudos de Eco, Chartier e Dällenbach, dentre outros. Percebemos, nesses dois capítulos, que tanto o tema da leitura quanto o da escrita são caros à narrativa literária desde o advento da modernidade. Na segunda parte do trabalho, nos propomos a analisar efetivamente a leitura e a escrita nas obras citadas de Lins, dedicando, a cada uma delas, um capítulo. Nesses quatro capítulos, buscamos um diálogo com a crítica especializada sobre o autor, considerando também a produção ensaística de Lins. A partir dessa análise, observamos que o autor adensa a leitura e a escrita de O visitante até chegar a A rainha dos cárceres da Grécia, partindo de uma perspectiva íntima desses atos, passando pela perpetuação da escrita e pela vivificação proporcionada pela leitura (seja de textos artísticos ou não), pelo viés da escrita literária até chegar a uma espécie de fusão de todos esses elementos.

Ao longo do século XX e, particularmente, em sua segunda metade, os romancistas retomaram e acentuaram as reflexões sobre a construção romanesca. O olhar para a escrita do texto literário resultou em uma interação mais direta com o leitor e exigiu sua coparticipação na construção dos sentidos do texto, uma vez que o caráter metaficcional, somado a outras estratégias narrativas, em vez de facilitar a leitura a problematizou. O olhar narcisista do romance acentuou, também, a reflexão sobre vários aspectos, entre eles: a intertextualidade e a assimilação de outros gêneros discursivos. Assim, este trabalho visou estudar tais aspectos em dois romances de autores que pertenceram à mesma época, mas em países diferentes, e que utilizaram, praticamente, os mesmos recursos estéticos: Bolor (1999), do escritor português Augusto Abelaira, publicado em 1968, e A rainha dos cárceres da Grécia (1976), do escritor brasileiro Osman Lins, publicado em 1976. Assim, este estudo se justifica porque os dois romances mantêm, em suas composições, estratégias narrativas muito semelhantes: intertextualidade explícita com obras da literatura universal de diversas épocas, metaficcionalidade e uso da forma romance-diário. Outros aspectos se correlacionam com esses, como fusão entre tempo e espaço, temáticas assimiladas das obras citadas, pluralidade de vozes, entre outros. O objetivo deste trabalho baseou-se no pressuposto de que o estudo desses aspectos, partindo das relações intertextuais dos romances de Abelaira e Lins com as obras neles citadas, constitui-se em uma chave de leitura para a construção de sentidos em cada um dos dois romances. Para realizar o estudo comparativo, foram utilizadas teorias que fundamentam os aspectos de composição dos dois romances. Em relação à intertextualidade, utilizou-se a teoria de Mikhail Bakhtin (1981), Julia Kristeva (1974), Laurent Jenny (1979) e Gerard Genette (2006). A discussão sobre a noção de metaficção apoiou-se, principalmente, em textos críticos sobre os dois romances. Para o estudo da questão do romance-diário, foram utilizadas as teorias de Valérie Raoul (1999), Béatrice Didier (1976), Sheila Dias Maciel (2012), Maria Luiza Ritzel Remédios (1997) e outras. Para o estudo desses aspectos, partindo da intertextualidade, foram lidas obras citadas nos dois romances. Entre os textos citados em Bolor, foram analisadas todas as obras literárias, menos o livro Dias íntimos por estar esgotado nas livrarias. Entre os textos citados em A rainha dos cárceres da Grécia, foram analisadas sete obras que se relacionam a alguma das estratégias narrativas estudadas neste trabalho. Concluiu-se que as estratégias narrativas que estruturam os dois romances principais requerem um leitor participativo que leia atentamente os fragmentos dos diários e construa os seus sentidos, sendo que alguns destes somente são percebidos nas relações dos romances principais com as obras que eles citam.

Seguindo uma tendência geral das ciências humanas, a chegada da pós-modernidade nos estudos literários culminou na chamada “morte do autor”. Com ressonâncias que podem ser percebidas em teóricos como Roland Barthes (2004), Michel Foucault (2006; 1996), Umberto Eco (2005; 2004; 2003; 2001; 1986), Stanley Fish (2003; 1990) e Linda Hutcheon (2000; 1991; 1984), a descrença pós-moderna no significado e a convicção de que o que uma obra literária significa não só independe do autor como até encontra neste um obstáculo à criatividade por parte do leitor encontram-se amplamente divulgadas, tendo aportado na teoria da metaficção via Hutcheon (1991; 1984) e Patrícia Waugh (1984). No entanto, partindo do realismo hermenêutico, linha interpretativa segundo a qual o sentido de um texto é anterior à leitura e, sob muitos aspectos, independente dela, neste trabalho me proponho a rever o papel do autor em romances metaficcionais, em busca de leituras adequadas para tais romances. Minha teoria é a de que autor e escritor são pessoas distintas e que, dentre as quatro fontes enunciativas de um romance (escritor, autor, narrador e personagem), o autor é aquela responsável por abrir a obra, ativar a leitura e efetivar a metaficcionalidade. Dialogando com teóricos de vários campos das ciências humanas, procuro defender o autor de seus adversários e evidenciar que, nas relações que estabelece com a personagem em romances de protagonista escritor (como A Rainha dos cárceres da Grécia, Bufo & Spallanzani e O Chalaça) o autor metaficcional se dirige a nós, fazendo-nos apelos comunicativos e chamando nossa atenção para a ficcionalidade do texto. Assim, o que faço nesta tese é mostrar que, uma vez que os ataques às noções de pessoa, intenção e autoritarismo interpretativo podem até dizer respeito ao escritor, mas jamais ao autor, este não pode nem deveria ser morto. O autor, busco provar, é um elemento constitutivo da linguagem ficcional e é também o outro com o qual nos comunicamos na leitura de romances metaficcionais. O resultado é que nossa interação com tal pessoa estética é fundamental para que, distinguindo as vozes do escritor, do narrador e da personagem, sejamos capazes de ler tais romances sem fazer interpretações problemáticas.

O objetivo deste estudo é analisar as correspondências musicais em “Pentágono de Hahn”, terceira narrativa de Nove, novena (1966), de Osman Lins. Esta obra da fase de transição do autor, apresenta diversas inovações poéticas, como a utilização dos sinais impronunciáveis, que instauram um silêncio cheio de significações. Considerá-los uma representação estilizada das figuras musicais já consagradas na escrita musical foi demasiado pouco para a tentativa de aproximação das duas linguagens artísticas, a musical e a literária. A proposta se tornou efetivamente possível aproximando os parâmetros musicais das características das personagens e de seus respectivos campos semânticos. Para a configuração do que se chamou “partitura literária”, a primeira parte dessa dissertação foi dedicada à configuração do espaço, o pentágono. Essa figura geométrica suscitou diversas representações simbólicas e também musicais, constituindo o pentagrama ou a pauta onde são escritas as composições. O conceito de paisagem sonora foi agregado à constituição do espaço, ampliando as possibilidades musicais no texto literário. O organum como manifestação da polifonia, foi composto pelas cinco vozes narrativas, em equivalência com os “movimentos” de uma composição musical. Para a análise das personagens, além das equivalências musicais, foram utilizadas referências no campo da hermenêutica simbólica, por via dos elementos observados no texto. A questão do silêncio retorna quando da análise da personagem título, pois a condição animal de Hahn, também é um impedimento para sua elocução. Como última aproximação entre as artes, observou-se a semelhança da técnica de composição musical denominada fuga com a estrutura da obra, sugerido a ideia de uma transcrição musical para a o texto literário. Para o desenvolvimento deste estudo, apoiamo-nos nas considerações de Mario Praz, Étienne Souriau e G.E. Lessing, no que diz respeito à correspondência entre as artes. Para as análises das imagens simbólicas recorremos às reflexões de Mircea Eliade, Gaston Bachelard e Joseph Campbell. Empreendendo uma incursão pelo texto em busca da intencionalidade do autor em redimensionar sua poética, pretendemos contribuir com novas abordagens acerca das múltiplas técnicas utilizadas por Lins na intenção de alcançar a plenitude de sua escrita.

Esta tese dedica-se ao estudo da presença de estruturas próprias à linguagem musical em quatro narrativas de Nove, novena (1966): “Um ponto no círculo”, “Pentágono de Hahn”, “Conto barroco ou unidade tripartita” e “Pastoral”. A escolha destas narrativas se deu por trazerem, na literalidade do texto, uma permeabilidade entre literatura e música. Concentra-se em perceber os recursos estéticos de natureza musical, seja a partir da instauração de uma sensação sonora, seja por elementos estruturais compartilhados ou transpostos entre as linguagens musical e literária, forjados na elaboração de uma nova escrita narrativa. Osman Lins propõe uma concepção de literatura que seja tal qual uma cosmogonia, em que é na ordenação do caos pela palavra que se cria a oportunidade de diálogo com o leitor e, a partir disso, a possibilidade de um novo olhar sobre o mundo e seus modelos sociais. Para tanto, o escritor utiliza de procedimentos técnicos e estéticos da criação artística no campo da interseção entreartes, de modo a estabelecer esse debate. Uma das variantes musicais que contribuem para o nosso trabalho é o conceito de “paisagem sonora”, cunhado pelo compositor, musicólogo e crítico canadense Murray Schafer (2001), que afirma ser possível isolar um campo do conhecimento e estudá-lo como campo acústico. Mikhail Bakhtin (1981), Umberto Eco (2010), Friedrich Nietzsche (2007), Mário de Andrade (2003), Ítalo Calvino (1990), Mircea Eliade (2011) e Gaston Bachelard (1978) impulsionam a pesquisa, estabelecendo-se como fundamentação teórica.

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