Esta dissertação pretende responder ao desconhecimento que a obra de Osman Lins suscita. Um vazio carregado de significação. As inúmeras traduções, para o alemão, para o francês, para o italiano e inglês, de boa parte de sua obra traduzem a ação e raio de sua importância. De circunferência larga, enraizada no nordeste brasileiro, em Pernambuco, terra nativa. Ao mesmo tempo a recepção lá de sua obra é para nós uma contra-celebração. Há o que festejar no entusiasmo deles por obra que, nossa, permanece-nos estranha? Apesar das limitações de nosso texto, esperamos sobrepor um sinal sobre a interrogação branca da cor de páginas sem leitores que envolve a produção literária de Osman Lins. O nosso presente nos cobra esse olhar revisionista, olhar crítico: faz-me esticar a atenção ao que, ao lado, arrefecia no silêncio. É preciso fazê-lo, moeda de valor, circular. Muito de nossa complexidade social e de intrincada realidade cultural ali respira. Avalovara, livro de 1973, é nosso objeto. A literatura como ato condensador, inventivo, cintilando seu reflexo estelar sobre um mar diário de entorpecimento. A poética de Avalovara, mais um fio na urdidura da teia encentrada na literatura. O olhar crítico é um olhar com e para. Com a obra e sempre na mira de um sentido, de uma interpretação. Olhar que assume sob o diâmetro de suas limitações os riscos interpretativos, que podem, sem atenção, minar a visão, infeccioná-la, inutilizá-la. Toda interpretação então é parcela do objeto que constitui. Rastreamos os caracteres barrocos de Avalovara, demonstrando sua modernidade e sintonia com o presente a partir da moderna idéia de barroco contemporâneo. Barroco tecido em suas correspondências estéticas com o presente. A colheita desses elementos barroquizantes, sua leitura, possibilita-nos compor a imagem barroca da obra para, a partir dela, explorar suas relações com a literatura moderna e com a ação da poética no mundo contemporâneo.