Teses e dissertações

Sobre: Osman Lins

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Este trabalho desenvolve algumas reflexões básicas sobre o esoterismo na Literatura Brasileira, partindo do estudo de dois autores: João Guimarães Rosa e Osman Lins; e de duas obras escolhidas: Sagarana e Nove, Novena. A análise observa os elementos esotéricos encontrados nos textos, através de referências diretas ou simuladas. A estratégia centra-se na possibilidade de aproximação do fazer literário de Osman Lins ao de Guimarães Rosa, no que se refere à manipulação da palavra e à técnica de construção da narrativa.

Esta tese é uma incursão pelo romance Avalovara, de Osman Lins. Obra que se narra a si mesma, que exibe sua estrutura e dialoga com seu tempo, A valovara não permite uma leitura única, redutora. Exige, bem ao contrário, uma perspectiva múltipla, baseada em diferentes campos da arte e do conhecimento humano. É este olhar que esta tese procura oferecer - o olhar de um viajante que busca reconstituir a viagem de um outro. O percurso está dividido em três partes, que se inter-relacionam e se completam mutuamente - um pouco como as três protagonistas do romance A primeira parte do trajeto busca dar conta da distribuição espacial do romance: desde a sua estrutura mesma, que já nasce vinculada à estética medieval, até a relação do protagonista com as cidades que percorre - na Europa - e com aquelas que traz dentro de si - do Nordeste brasileiro. A segunda parte discute a questão do tempo em Avalovara. O tempo em suas muitas implicações, seja na organização da matéria narrativa, seja constitutivo. Já a terceira e última parte fala da criação e de seus enfrentamentos. Primeiro, entre o criador e a opressão, que o nega, contamina e, muitas vezes, o destrói. Depois, entre o criador e o objeto de sua criação - no caso, a palavra.

O objetivo deste trabalho consiste em demonstrar como Osman Lins, através de seu romance, O fiel e a pedra, rearticula o gênero épico e inscreve-se assim dentro da grande tradição literária ocidental. Estabelecer e fundamentar esta relação implicou na análise de alguns parâmetros essenciais da epopéia: o espaço, o herói e a ambientação. Para compreender o trabalho de construção do espaço em O fiel e a pedra, foi necessário desenvolver um estudo desta dimensão dentro da escritura romanesca de Osman Lins a partir da teorização feita pelo autor sobre a questão espacial na obra de Lima Barreto. Finalmente, foram consideradas as possibilidades de construção de um épico contemporâneo através da tematização do amor, da solidão e da morte.

Paginário nomeia um diverso olhar diante da página literária, a página imagem, lida não mais enquanto suporte do texto, e sim escritura. A imaginação crítica: projeto estético de Osman Lins e Italo Calvino fundamentado em valores da modernidade literária que unem, pela linguagem poética, o discurso romanesco ao discurso crítico. Nos romances e ensaios, os autores criam estratégias de ficcionalização e expõem com rigor e paixão uma defesa da especificidade da Literatura. O trabalho está teoricamente argumentado com bases na releitura do conceito de imaginação restituindo o caráter crítico e seletivo do imaginário. Os romances A Rainha dos Cárceres da Grécia e Se um viajante numa noite de inverno são glosas de si mesmos: apresentam com ironia o fracasso das Teorias de interpretação frente a amplidão do literário. Livro, autor e leitor, personagens romanescos, são agora responsáveis pela construção das novas realidades textuais. O fanal: despertar o leitor da dormência mental provocada por alguns textos de fácil penetração e deslizamento, superfícies não porosas que são, sem obstáculos e labirintos.

Esta dissertação pretende responder ao desconhecimento que a obra de Osman Lins suscita. Um vazio carregado de significação. As inúmeras traduções, para o alemão, para o francês, para o italiano e inglês, de boa parte de sua obra traduzem a ação e raio de sua importância. De circunferência larga, enraizada no nordeste brasileiro, em Pernambuco, terra nativa. Ao mesmo tempo a recepção lá de sua obra é para nós uma contra-celebração. Há o que festejar no entusiasmo deles por obra que, nossa, permanece-nos estranha? Apesar das limitações de nosso texto, esperamos sobrepor um sinal sobre a interrogação branca da cor de páginas sem leitores que envolve a produção literária de Osman Lins. O nosso presente nos cobra esse olhar revisionista, olhar crítico: faz-me esticar a atenção ao que, ao lado, arrefecia no silêncio. É preciso fazê-lo, moeda de valor, circular. Muito de nossa complexidade social e de intrincada realidade cultural ali respira. Avalovara, livro de 1973, é nosso objeto. A literatura como ato condensador, inventivo, cintilando seu reflexo estelar sobre um mar diário de entorpecimento. A poética de Avalovara, mais um fio na urdidura da teia encentrada na literatura. O olhar crítico é um olhar com e para. Com a obra e sempre na mira de um sentido, de uma interpretação. Olhar que assume sob o diâmetro de suas limitações os riscos interpretativos, que podem, sem atenção, minar a visão, infeccioná-la, inutilizá-la. Toda interpretação então é parcela do objeto que constitui. Rastreamos os caracteres barrocos de Avalovara, demonstrando sua modernidade e sintonia com o presente a partir da moderna idéia de barroco contemporâneo. Barroco tecido em suas correspondências estéticas com o presente. A colheita desses elementos barroquizantes, sua leitura, possibilita-nos compor a imagem barroca da obra para, a partir dela, explorar suas relações com a literatura moderna e com a ação da poética no mundo contemporâneo.

Entrar em contato com as rotas do imaginário é uma maneira de permitir leituras que ultrapassam a superfície do texto e chegam aos possíveis do ser. Nesse sentido, a dissertação O MEDIEVO EM NOVE, NOVENA : UM PERCURSO PARA O IMAGINÁRIO tem o objetivo de verificar, nas narrativas que compõem Nove, novena, indícios do imaginário medieval e como se estabelece a releitura desse universo imagético na produção osmaniana. Tal estudo se justifica por Osman Lins ter conseguido imprimir a essa obra um olhar aperspectívico e uma aura de ascetismo, o que se assemelha à cosmovisão do homem da Idade Média. A pesquisa tem bases teóricas nos estudos de Gilbert Durand, no que diz respeito à simbologia; em relação à cultura do Medievo, dentre os diversos autores consultados, destacam-se Georges Duby e Jacques Le Goff.

Este estudo tem como objetivo evidenciar as ressonâncias, dissonâncias e consonâncias estético-formal entre Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e A Rainha dos Cárceres da Grécia (1976), sob o enfoque do 'espaço', tema bastante discutido nas obras desses escritores e críticos: Machado de Assis e Osman Lins. O espaço não é uma categoria estática e, por isso, deve ser associada a uma outra tempestade de coordenadas. A consideração tomadas sobre a subjetividade do representação - mimesis e verossimilhança - que laços, na modernidade, elaborações conseqüente entre os sujeitos da ação e sua / seu arco social. A concepção de espaço deixa do que foi apresentados no provocações teóricas assumidas em ambos os autores, quando, tomando consciência em direção reflexiva sobre a naturalização do sinal eo sinal estrutural imanente, respectivamente, eles procuraram fazer cálculos de novo a realidade teórico-literário de sua época.

A nossa investigação e reflexão histórica têm como ponto de partida o estudo da área central do Recife, o epicentro da Região Metropolitana do Recife, a partir do qual podemos averiguar, entre 1969 e 1975, como a cidade foi modernizada para se integrar de forma cabal aos padrões de uma sociedade de consumo e industrial, que para tanto promoveu um reordenamento urbano no seu centro, uma urbanização viária, a instalação de novos equipamentos urbanos e a remodelação de suas paisagens, arquitetadas através de ações instituídas e constituídas pelos poderes públicos, associados ao capital havido por novas oportunidades de negócios e aliados as classes sociais mais abastadas da cidade com interesses numa mobilidade territorial eficaz num tempo hábil, a partir de uma política assentada num aparelho de Estado de feições autoritárias, tecnocráticas e de uma racionalização instrumental da sociedade, impondo sobre as classes subalternas os custos dessa modernização. Mas, também, como estas reagiram e como Osman Lins, através do romance A rainha dos cárceres da Grécia, desvela, analisa e crítica essa modernização e dá voz e vez aos sonhos, projetos, experiências de vida, história e dramas dessas classes sociais deserdadas pela modernização brasileira. Partindo desta relação entre história/literatura e das mediações sociais e políticas entre as classes sociais, podemos, também, averiguar a produção de formas e modos de vida distintos na sociedade, a agregação de paradigmas à esfera cultural, a redefinição da relação com a memória e a história e a contigüidade com a reserva de consciência critica da sociedade.

O presente projeto constitui um estudo analítico-interpretativo do espaço literário e suas relações com as artes visuais em "Retábulo de Santa Joana Carolina", a quinta das nove narrativas do livro Nove, novena, de Osman Lins. Nossa hipótese de partida, relevando a importância do título e da conformação física do texto sobre a página, é a de que a narrativa tem uma gênese imagética, em que a visualidade determina a configuração do texto em sua relação com as artes figurativas. Como resultado disso, embora comumente o foco narrativo seja o elemento técnico mais valorizado, acreditamos ser o espaço, fixado como imagem em quadros, o articulador do foco narrativo. O trabalho estruturar-se-á em 4 capítulos, no primeiro dos quais procuraremos traçar, em linhas gerais, a idéia de literatura de Osman Lins, sua concepção do ofício do escritor, sua função cultural e social, basicamente (mas não somente) a partir da leitura de seus textos de ficção e de crítica; em seguida procuraremos delinear seu percurso narrativo, desde seu romance inicial, O Visitante até chegar a Nove, novena, e de modo muito especial, o "Retábulo da Santa Joana Carolina", cuja análise temática e estrutural constituirá o segundo capítulo. No terceiro capítulo procuraremos delinear os fundamentos de nossa hipótese inicial de interpretação do espaço como elemento estruturador e articulador do tempo e do foco narrativo no texto do "Retábulo", a partir da reflexão sobre a relação do espaço com os outros elementos narrativos. No quarto capítulo, recuperando algumas definições traçadas nos capítulos anteriores, buscaremos evidenciar as relações da configuração do espaço literário com as artes visuais, e procuraremos demonstrar como a representação discursiva do espaço - especialmente através da écfrasis literária - está intimamente ligada às técnicas e convenções de representação do espaço nas ) artes figurativas; concluindo, teceremos alguns comentários sobre o imbricamento da estética das artes visuais na estética literária, na obra de Osman Lins.

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Tipo

Tese de Doutorado

Ano

2005

Esta tese aborda aspectos ainda pouco analisados de A rainha dos cárceres da Grécia, último romance de Osman Lins: o narrador, a estrutura e a memória e, principalmente, o mundo grego no romance. Procura tratar também de outras questões, como a relação de ruptura e continuidade entre Avalovara e A rainha; a mulher na obra de Osman Lins; o levantamento e a análise de parte das inúmeras referências literárias no romance, a intertextualidade - citações ou paráfrases de textos de autores como Machado de Assis, Sófocles, Goethe e Poe - e sua articulação com estrutura e o tecido romanescos. É necessário desde agora ressaltar que nada disso Osman Lins revelou em anotações, artigos ou entrevistas. São descobertas feitas no convívio com o romance publicado. O romancista condenava a explicação exaustiva da obra pelo autor e manteve-se coerente com esse princípio. A rainha dos cárceres da Grécia, escrito e publicado durante a ditadura militar, põe em cena personagens excluídos da divisão do bolo do "milagre". Texto síntese da obra osmaniana, o romance interpreta e denuncia a chaga viva do cárcere Brasil

Das primeiras peças ao teatro experimental, uma mudança sensível marca a dramaturgia de Osman Lins. Ou seja, da primeira para a segunda fase houve uma metamorfose de sua escrita teatral. No início da carreira, o autor investiu na linha cômico-popular e ganhou os aplausos do público e da crítica com Lisbela e o Prisioneiro. O drama realista Guerra do Cansa-Cavalo teve boa acolhida e até mesmo a recepção fria à montagem A Idade dos Homens – com sua crítica social urbana – gerou um bom debate na mídia. As inovações da trilogia Santa, Automóvel e Soldado, composta pelas peças Mistério das Figuras de Barro, Auto do Salão do Automóvel e Romance dos Dois Soldados de Herodes ainda são pouco conhecidas, encenadas e estudadas. A dissertação, de abordagem interdisciplinar investiga dois campos imbricados que envolvem a trilogia Santa, Automóvel e Soldado. O primeiro detém-se sobre os possíveis motivos dessa dramaturgia não ter alcançado o merecido reconhecimento, numa tentativa de desvelar os obstáculos da receptividade da trilogia. O segundo debruça-se sobre a análise das peças. Sigo o pressuposto de que uma rede complexa de acontecimentos impediu a consagração da trilogia. Minha hipótese é que a conjuntura do período (ainda sob o regime militar), a estética teatral hegemônica, os duelos travados nos bastidores entre grupos para firmar seu ideário, as estratégias de negociação para que determinada estética chegasse ao público; além da publicação do seu livro de ensaios Guerra sem Testemunhas – um estudo crítico sobre a realidade do escritor brasileiro, que traça conexões entre campo literário (inclusive teatral) e campo de poder – contribuíram para o isolamento e até mesmo o silêncio sobre as peças que são objeto dessa pesquisa. Na segunda ponta do trabalho, baseio-me na hipótese de que o teatro corria em paralelo à sua obra ficcional, ou seja, Lins empreendeu inovações também na dramaturgia, estabelecendo nessas experimentações um novo gênero épico.

Esta pesquisa tem a finalidade de analisar a representação do leitor em A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins, resgatando os fundamentos da estética da recepção, ademais de realizar uma reflexão acerca da formação de leitores críticos, a partir dos referenciais de leitor que a Teoria Literária e a obra ficcional ora em estudo preconizam. A rainha dos cárceres da Grécia é um romance que propõe, em seu discurso literário, a interação entre leitor e texto. Essa relação exige uma participação ativa do receptor na construção do significado da obra. Esse leitor, que interage e desenvolve sua capacidade de criticar e relacionar as leituras, pode começar a ser formado no ensino médio por meio do ensino de literatura.

Este trabalho se dedica ao estudo da narrativa "Noivado" de Osman Lins, numa leitura do visível e do legível, abordada juntamente com a obra fotográfica "Os trinta Valérios" de Valério Vieira. Nos apoiamos na obra do filósofo alemão Walter benjamin para traçar passagens a diferentes meios reprodutivos, desde o que se passa no vitral até à fotografia e ao cinema, buscando demonstrar como a proliferação e a fragmentação atuam na modernidade. Destacamos o diálogo entre linguagem escrita (Osman Lins) e linguagem-imagem (Valério Vieira) como formas de despertar da anestesia moderna.

Nesta pesquisa propomos-nos, em um primeiro momento, evidenciar as preocupações de Osman Lins com a indústria cultural, com o ato de escrever, com a situação do escritor e sua relação com a sociedade. Em seguida, abordamos alguns dos principais aspectos da poética de Osman Lins, tais como a influência das artes medieval, gótica e barroca em sua obra, assim como as confluências e divergências com o Nouveau roman. Além disso, fizemos uma rápida explanação sobre as obras de Osman Lins seguindo a divisão estabelecida pelo autor, isto é, a fase da procura, a fase da transição e a do encontro. Em um segundo momento, examinamos alguns aspectos teóricos da narrativa moderna e, particularmente, da narrativa metaficcional, a saber: a autoreflexibilidade, a mise en abyme, a questão do leitor e da leitura, a fragmentação do texto, a ruptura dos gêneros, além de alguns procedimentos narrativos que participam da construção desse tipo de narrativa. Essas partes preliminares de nosso trabalho constituíram etapas importantes para atingirmos nosso objetivo mais importante que é examinar quais são as estratégias narrativas e discursivas empregadas por Osman Lins no processo de construção de A rainha dos cárceres da Grécia. Assim, passando da teoria à prática, em um terceiro momento, analisamos as ocorrências da instância metanarrativa em Nove, novena e, principalmente, a metaficcionalidade em A rainha dos cárceres da Grécia, procurando evidenciar como as formas de manifestação desses fenômenos aparecem nas obras das duas últimas fases da narrativa de Osman Lins de formas distintas.

Este trabalho tem como objetivo a análise do romance A Rainha dos Cárceres da Grécia, de Osman Lins, procurando perceber de que modo a ironia que fundamenta seu procedimento formal e estético articula uma forte negatividade crítica. Essa negatividade articulada por meio da ironia, em muitas das diversas possibilidades e manifestações que esta permite, se dirige a várias esferas. Entre outros temas, em uma rara capacidade de abrangência e problematização, o romance de Osman Lins trabalha questões fundamentais ligadas ao sistema literário brasileiro; à literatura e aos problemas de representação; à crítica literária e aos complexos problemas políticos e culturais que a envolvem; ao estado-nação, à identidade de seus habitantes e à segregação social; à indústria cultural e aos meios de comunicação de massa; aos mecanismos ideológicos de dominação, junto à hipertrofia da razão instrumental; ao período ditatorial em que está inserido o livro e, de forma ampla, a questões que remetem ao quadro internacional, como o apagamento da história, a internacionalização do capital e a expansão de mecanismos hegemônicos e imperialistas bem como a posição peculiar e própria ao Brasil dentro desse panorama.

Esta dissertação tem por objetivo realizar uma leitura poético-filosófica do livro Marinheiro de primeira viagem, de Osman Lins, que se destaca por seu experimentalismo literário e por inovar o gênero "literatura de viagem". Embora seja um livro elaborado com base na viagem que seu autor fez à Europa, onde ficou seis meses, em 1961, ele não oferece a seus relatos as características que se costuma imprimir a esse gênero tradicional, em que o autor revela suas impressões e faz descrições das experiências vividas. Ao registrar suas memórias, ele cria uma estética literária inovadora por sua narrativa insubmissa, não-linear, marcadamente fragmentada, mas poética. Nos registros, o diálogo intertextual com a tradição cultural é intenso, e destacaremos esse intercâmbio como memória que a literatura tem dela mesma. Nessa relação entre textos, ganha relevo o mítico Orfeu e sua amada Eurídice, que potencializam a poética do livro e congregam o leitor ao texto para uma leitura hermenêutica com base na estética da recepção. Quanto ao aspecto filosófico do trabalho, encontramos apoio nas idéias hermenêuticoontológicas do filósofo Martin Heidegger e sua meditação sobre a obra de arte e a poesia, que contribuem para uma reflexão acerca do evento poético que unifica os fragmentos em Marinheiro de primeira viagem.

O romance Avalovara (1973), do escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), apresenta complexa elaboração da categoria narrativa tempo, por meio da exploração da técnica da simultaneidade narrativa. O enredo que mimetiza o movimento de uma espiral sobre o palíndromo sator arepo tenet opera rotas torna concorrentes no presente da enunciação diferentes temporalidades ficcionais, promovendo leituras pautadas pela revisão_ com impactos para o próprio tempo e memória de leitura _ da concepção de um tempo linear e homogêneo, como consolidado no senso comum. Com a visada plural sobre o tempo, a narrativa osmaniana provoca fecundos enraizamentos: na própria trajetória do escritor, cuja inquietude técnica conduz à renovação dos modos de narrar; na moderna narrativa ocidental, que se funda na ruptura com a situação espácio-temporal de cunho "realista"; na modernidade da literatura brasileira, em diálogo com a pesquisa formal, sobremodo nas inovações da poética do tempo, da geração paulistana de 22; no debate acerca do engajamento literário, que se colocou com o Golpe de 64. Do percurso de leitura crítica em busca desses enraizamentos e suas imbricações, evocados pelo texto osmaniano, o presente trabalho destaca a crítica radical que Avalovara tece à visada progressista e à concepção de história nela ancorada. A estrutura desse romance, ao conjugar no tempo literário aspectos tão díspares do tempo _ a atemporalidade mítica, a histórica e a subjetiva_ alcança construir uma noção de história sensível a vozes silenciadas e alienadas no passado e interessada em ecoá-las no presente, em afinidade com a guinada na Historiografia, proposta por pensadores como os da Escola de Analles e Walter Benjamin.

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