Textos em periódicos

Autor: Elizabeth Hazin

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Todo escritor é também um leitor, que às vezes lê por prazer, às vezes para se documentar diante de algum plano de escritura que tenha em mente. As palavras que lemos em Repertório, de Michel Butor e em O livro por vir, de Maurice Blanchot nos revelam o quanto esses autores foram importantes para o leitor Osman Lins, na medida em que ambos estabelecem em seus livros uma forte relação entre literatura e viagem, a mesma que descobrimos nos textos do romancista brasileiro. Recortadas de ens aio bem mais amplo que aprofunda a noção de entrelaçamento de gêneros em Osman Lins e traz à discussão a similitude existente entre Avalovara e os livros de viagem medievais (apontando naquele a existência dos mesmos traços artísticos que, articulados, configuram a narrativa destes), as páginas aqui apresentadas pretendem tão-somente sugerir a relação viagem/escrita no referido romance, mostrando ao leitor a importância que tal relação assume aos olhos do romancista.

Este ensaio propõe uma aproximação do romance Avalovara ao subgênero literatura de viagem, não exatamente no sentido da subentendida conexão íntima entre a viagem e a literatura, mas, sobretudo, no sentido de que o romance aqui se constrói como representação imaginária da busca de uma Cidade, de uma Ilha, de um Nome e, como tal, traz em si – ainda que na clave do alegórico – as marcas distintivas da especificidade aludida: um olhar posto sobre a natureza, a relação tempo-espaço, o privilegiamento da descrição sobre a narração. “Uma viagem está no texto, íntegra: partida, percurso, chegada”, palavras do ensaio de Abel que não apenas intensificam os motivos que empurram a pesquisadora, mas também apontam A viagem e o rio como o contraponto perfeito, na medida em que aos poucos desvela – através de seu paralelismo com o texto romanesco – as brumas que encobrem o caminho por ela trilhado.

Este texto acolhe três depoimentos escritos especialmente para integrar este volume dedicado a Osman Lins. Dois são de familiares Maria do Carmo de Araújo Lins, sua primeira esposa; Maria de Lurdes Lins Strummiello, irmã de Osman Lins; o outro, de Dorothea Severino, esposa de seu amigo Alexandrino Severino.

Partindo da ideia de que existem vínculos fortes entre a arte daquele que coleciona (e que, para Walter Benjamin, reúne em torno de si um resumo do universo) e daquele que escreve (e que, segundo Osman Lins, promove harmonia através da confluência do disperso), este artigo pretende mapear, no texto de Avalovara, conjuntos temáticos que tornem mais evidente o método de que a autor pernambucano se vale para transformar a matéria bruta do mundo por ele apreendida em arte, o que implica todo um percurso de identificação, seleção e, sobretudo, de ordenação dessa matéria.

O presente estudo tem por objetivo fomentar as discussões concernentes às relações interartísticas entre literatura e escultura a partir de “Conto Barroco ou Unidade Tripartita”, sexta narrativa de Nove, Novena, de Osman Lins. O grande intento destas palavras que aqui seguem é o embasamento da hipótese de correspondência entre o conto de Lins e a escultura homônima Unidade Tripartita, de Max Bill, escultor, arquiteto e teórico do design suíço do século XX. Além de pensar a relação interarte, sob a ótica de Etienne Souriau e de Gotthold Ephraim Lessing, este texto explorará outros elementos inerentes à narrativa, que dialogam com a discussão da relação entre literatura e outras artes.

Elizabeth Hazin (UNB), engrossa a coluna Estudos do Romance com a sua expertise de pesquisadora da obra de Osman Lins, com o texto “ ‘Como introduzir, com ordem, num espaço, tudo o que pretendemos?’- A Importância do Espaço na Ficção Osmaniana.”

Esse texto pretende trazer à tona algumas considerações a propósito de uma escolha. Sim, porque se alguém elege um autor para tecer sobre a sua obra um pensamento crítico, é porque algo muito forte o conduz nessa direção. É sobre o que se pode refletir a respeito disso que escrevo aqui, não simplesmente querendo reproduzir os passos desse alguém, mas compreendê-los e interpretá-los, transformando essa possibilidade – a mim propiciada pela distância no tempo - em percepção mais aguda das opções estéticas daquele que constrói seu texto crítico sobre uma sua contemporânea. No caso, Osman Lins, autor pernambucano (1924-1978), escrevendo texto crítico sobre um conto de Clarice Lispector, autora ucraniana que cresceu e viveu no Brasil (1920-1977).

Este trabalho é uma tentativa de falar do político em Osman Lins, escritor que sempre se declarou contra o engajamento, considerando-o algo limitador, e que pelo contrário sempre se posicionou a favor da palavra, do estético, do ornamento. Tal ideia sempre esteve alegoricamente posta em seu texto: ”Minha vida inteira concentra-se em torno de um ato: buscar, sabendo ou não o quê. Assemelham-se um pouco às de um desmemoriado minhas relações com o mundo. Caço hoje um texto e estou convencido de que todo o segredo da minha passagem pelo mundo liga-se a isto. O texto que devo encontrar (onde está impresso ou se me cabe escrevê-lo, não sei) assemelha-se ao nome de uma cidade: seu alcance ultrapassa-o – como um nome de cidade -, significando, na sua concisão, um ser real e seu evoluir. E as vias que nele se cruzam, sendo ainda capaz de permanecer quando tal ser e seus caminhos estejam sepultados”, como escreve ele no fragmento 9 da linha narrativa R, do romance Avalovara. Assim, o político assume, em Lins, esse papel de acender no leitor a força poderosa da palavra, aquela que para ele é capaz de trazer de volta o perdido, o encoberto, o que já não mais existe. Por esse motivo sua escrita vem aqui considerada uma escrita absolutamente revolucionária.

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