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Eutomia, jul. 2014, v. 1, n. 13

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Depoimento apresentado no “Colóquio Osman Lins – literatura, teatro e ensaio”, ocorrido nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2004, FFLCH/USP. Transcrição de Thaís Nazaré da Silva; edição e preparação de texto de Nelson Luís Barbosa.

Este artigo se propõe a refletir sobre alguns desdobramentos do tratamento dado à temática da loucura em A Rainha dos Cárceres da Grécia, de Osman Lins. A partir da análise do suposto desequilíbrio mental de Maria de França, será mostrado como a ideia de loucura, bastante relativizada nesse livro de 1976, desencadeia discussões sobre os alcances da representação literária, assinalando uma desconfiança face à pretensão de representar de forma objetiva a realidade convencional.

Este artigo tem por proposta destacar as formas geométricas que Osman Lins recorre ao elaborar Marinheiro de primeira viagem e Guerra sem testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social. A experiência do autor com a geometria é parte integrante de sua formação desde os primeiros anos de vida. Ao escolher os círculos para se expressar literariamente, ele converte essa linguagem de primeiro grau em metáfora, pela ampliação de sentido que essas referências proporcionam.

Os arquivos literários são o espaço onde muitas vezes, algumas das mais interessantes ideias dos escritores estão adormecidas, à espera de serem recuperadas. Dentre anotações, livros, fotos, trechos sublinhados, recortes de jornais selecionados por um motivo especial, cadernos inacabados encontramos um mundo no qual o escritor gestou sua obra. Olhar para esses pedaços e localizá-los em sua obra é uma tarefa árdua, mas que traz respostas prazerosas. O presente ensaio relata tal processo, que tal qual o jogo do quebra-cabeça, buscou peças e ao final, conseguiu completar mais uma imagem das tantas desenhadas por Osman Lins, em sua vida e em sua obra.

Partindo da ideia de que existem vínculos fortes entre a arte daquele que coleciona (e que, para Walter Benjamin, reúne em torno de si um resumo do universo) e daquele que escreve (e que, segundo Osman Lins, promove harmonia através da confluência do disperso), este artigo pretende mapear, no texto de Avalovara, conjuntos temáticos que tornem mais evidente o método de que a autor pernambucano se vale para transformar a matéria bruta do mundo por ele apreendida em arte, o que implica todo um percurso de identificação, seleção e, sobretudo, de ordenação dessa matéria.

Este artigo contém o segundo dos três itens previstos para o ensaio intitulado “Cosmofonia osmaniana: a orquestração sonora simbólica em Avalovara”, e trata do tema da pastoral ao pastoril: sonoplastia de um regionalismo à beira-mar, um estudo sobre o capítulo Cecília entre os leões, de Avalovara. A ideia geral da pesquisa consiste em mostrar como os princípios básicos de consciência ecológica defendidos pelo World soundscape project de Murray Schafer subsistem no âmbito do exercício de criação de ambientações muito específicas por Osman Lins no romance Avalovara, como uma peculiar apropriação e releitura de um ainda incipiente, nos anos 1970, discurso preservacionista da natureza, que aparece transformado na defesa da natureza de um discurso reiteradamente ameaçado de extinção no século XX: o romanesco.

Este artigo tem como objetivo demonstrar elementos de carnavalização na peça Lisbela e o Prisioneiro (2003), de Osman Lins. Por meio de um tom cômico, o autor brinca com as convenções sociais estabelecidas, renovando-as no enredo, evidenciando assim, um “mundo às avessas”, mais tolerante, enraizado nas expressões populares. Diante dessas características, na busca por ampliar as interpretações da obra, o texto foi lido à luz do conceito da carnavalização na literatura (BAKHTIN, 1999). A partir disso, foi possível perceber que Lins se apropria da atmosfera democrática da festa popular e cria um ambiente, no qual os mais fracos têm voz e poder de decisão para renovar os valores e verdades oficiais. Nesse universo ficcional carnavalizado construído pelo autor, a dura, chata e séria realidade cheia de regras impostas pelos tipos ficcionais mais fortes foram neutralizadas, ou melhor, o medo de punição foi abolido e, com isso, todo desejo de liberdade dos personagens oprimidos pode se concretizar nessa segunda vida mais risonha e libertária, proporcionada pelos elementos de carnavalização presentes no texto. Dessa forma, o resultado aqui divulgado aprofunda a fortuna crítica do autor e contribui com o campo dos estudos literários.

Selecionamos trechos de A cabeça levada em triunfo, último romance, inédito e inacabado, de Osman Lins, cujo texto foi estabelecido fidedignamente conforme os manuscritos da obra que se encontram no Fundo pessoal do autor, salvaguardado nos arquivos do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) e da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Interpretamos no romance Avalovara (1973), de Osman Lins, a questão do Tempo, a qual, em que pese atravessar toda a obra, repercute especialmente em um de seus oito fios narrativos: “P - O Relógio de Julius Heckethorn”. No movimento caleidoscópico da obra, o Tempo se articula com o Ser, conúbio que irrompe na Linguagem (lógos), convertendo-a em questão e colocando em xeque a noção de que seja, em sua essência, um instrumento de comunicação. Dialogamos, para tanto, com pensadores como Martin Heidegger, Benedito Nunes e Octavio Paz, entre outros. No presente trabalho procuramos, em uma perspectiva filosófica, expor o sentido da narrativa e de sua tessitura como encenação da travessia histórico-existencial do ser humano.

Considerando a evolução da literatura ficcional de Osman Lins, este artigo problematiza a tensão subjetividade versus impessoalidade que permeia sua obra. Parte de um exame da formação do gênero romance no que diz respeito à representação do indivíduo, a fim de abordar a transição da subjetividade psicológica nas formas realistas para uma nova unidade épica do sujeito, tendência observada no romance do século XX, que se volta para o mito e para as estruturas arquetípicas. Essa mesma transição é observada na ficção de Osman Lins. Na sua obra madura, a consciência mítica impessoal do personagem expressa uma vontade de reintegrar eu e cosmo para além das fragmentações modernas.

Depoimento apresentado no “Colóquio Osman Lins – literatura, teatro e ensaio”, ocorrido nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2004, FFLCH/USP. Transcrição de Thaís Nazaré da Silva; edição e preparação de texto de Nelson Luís Barbosa.

A Rainha dos Cárceres da Grécia fala de um livro, seu homônimo, em absconso, mas com um resquício de visibilidade: a leitura de um narrador sem nome. A partir da noção de existência como exílio e asilo, de Jean-Luc Nancy, analisamos a distância intransponível que, ao mesmo tempo, é condição de existência do dito livro. O exílio, para Nancy, é movimento para fora que não parte de lugar nenhum. Ainda sob essa perspectiva, abordamos também a condição nômade da personagem Julia, autora do livro, e como isso afeta sua obra. Por último, tratamos da viagem do narrador na análise da obra, em busca de significação na linguagem incapturável de Julia, mulher a quem amou e que morreu pouco tempo depois de terminar a obra.

Dos oito temas que compõem o romance Avalovara, de Osman Lins, organizados a partir do movimento da espiral sobre as letras RSOATPEN, do palíndromo Sator Arepo Tenet Opera Rotas, selecionou-se para este artigo o tema R. Deste, destacaram-se trinta pequenos fragmentos que dizem respeito à formação do cais em T. Pretende-se demonstrar que este motivo, o cais em T, é elaborado por um procedimento retórico denominado ekphasis ou écfrase. Num primeiro plano, a écfrase é uma descrição literária, detalhada, de um objeto das artes visuais. Entretanto, suas implicações envolvem aspectos da arte de narrar, como espaço e tempo, real e imaginário, concreto e abstrato, palavra e imagem, sagrado e profano.

Depoimento apresentado no “Colóquio Osman Lins – literatura, teatro e ensaio”, ocorrido nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2004, FFLCH/USP. Transcrição de Thaís Nazaré da Silva; edição e preparação de texto de Nelson Luís Barbosa.

O artigo busca oferecer nova abordagem do lugar que ocupa Osman Lins na literatura brasileira moderna, permitindo ver Osman Lins na esteira de Manuel Bandeira e João Cabral.

Preenche o romance Avalovara um elaborado tecido de sonoridades, impregnando as diferentes cenas com vitalidade e significados, algumas delas estabelecendo-se como marcos sonoros identificadores de personagens e de contextos dramáticos. A mescla de sons musicais, sons naturais e ruídos oriundos da sociedade tecnológica delineia os contornos de inúmeras paisagens sonoras que ornamentam a obra literária com um rico caleidoscópio sonoro. As expressões musicais presentes na narrativa consistem de referências à peças eruditas e populares, com ênfase aquelas executadas em instrumentos de teclado. Este trabalho aborda o piano e suas representações ao longo do romance. Os sons do piano revelam, em diferentes momentos da vida dos protagonistas, estados de agregação familiar e de felicidade enquanto que o seu silêncio acompanha situações de degradação, como símbolo de conexão entre um passado repleto de vida e de esperança e um presente preenchido apenas por recordações nostálgicas. O personagem músico Julius Heckethorn, no tema P, toca piano e cravo e constrói um sofisticado relógio musical, em cujo soar das horas ouvem-se fragmentos da introdução da Sonata K 462, de Scarlatti. O simbolismo do relógio de Julius fica evidenciado em sua presença solene nos momentos crucias do relacionamento amoroso entre Abel e a Inominada. Sua complexa arquitetura musical está intrinsecamente relacionada à estrutura do romance de Osman Lins. Em contraposição ao estilo elegante e contido do soar dos trechos aparentemente desconexos da sonata de Scarlatti que soam nas horas cheias do aparato mecânico de Julius Heckethorn, toca nos momentos lascivos dos encontros entre os dois amantes, a cantata Catulli Carmina, de Carl Orff, em que quatro pianos, juntamente com instrumentos de percussão, executam acordes de sonoridades ásperas e intensamente ritmadas. Osman Lins promove na narrativa o encontro entre os contrários, representados pelo convívio do sagrado com o profano, do erudito com o popular, d

O artigo apresenta um breve estudo da correspondência epistolar havida entre os escritores Osman Lins e Hermilo Borba Filho, entre 1965 e 1976, tendo como foco a máquina editorial, conforme discutido por Osman em sua obra "Guerra sem testemunhas", de 1969.

Uma das conquistas da narrativa moderna foi expandir suas fronteiras, tanto para os elementos como para os limites consagrados pelas estéticas realista e naturalista, para a extensão e síntese. No diálogo dos grandes nomes do cânone moderno, fins do século XIX e inícios do XX, no Ocidente, fica assente a liberdade pela pesquisa formal, pela autonomia estética, o que deu origem a criações como algumas surgidas no Brasil, entre as décadas de 1940 e 1950, responsáveis pela experiência com a linguagem poética em níveis raramente alcançados. Entre esses criadores, destaca-se Osman Lins (1924-1978), o nordestino que levou suas origens e mitos para além da língua portuguesa, fazendo elevar sua voz entre aqueles que alteraram as expectativas dos leitores para outros formatos narrativos. Este exercício é uma homenagem ao criador de "Retábulo de Santa Joana Carolina", narrativa admirada e querida entre os que descobriram uma outra forma de enfrentar as dimensões do espaço e do tempo, mesmo no tempo do presente, este que nos foi entregue para uma travessia.

Discutiremos neste artigo como se constitui o olhar no livro Marinheiro de primeira viagem de Osman Lins. Centramo-nos primordialmente nos episódios transcorridos em Paris, em que o olhar do estrangeiro gradativamente cede espaço ao do viajante, que define os contornos do livro. A perspectiva do viajante pode ser mais bem compreendida por meio da contraposição à do turista, que carrega consigo um instrumento por meio do qual se expressa: a máquina fotográfica. Em oposição à fotografia, a pintura oferece parâmetros para pensarmos o olhar do viajante e a escrita singular de Osman Lins em um livro que extrapola o gênero “literatura de viagem”.

Este texto tem por objetivo tratar da crítica ensaística de Osman Lins sobre o corpus de obras, para leitura e estudo, que compõe os compêndios de Português adotados nas escolas para o ensino da língua nacional no Curso Secundário. Mais especificamente, pretende-se refletir sobre como Osman Lins analisa os procedimentos adotados pelos autores desses compêndios para apresentar aos educandos a literatura brasileira. Nosso objeto de estudo e análise restringe-se a seis ensaios que Lins publicou, originalmente, no ano de 1965, no jornal Imprensa Universitária de Pernambuco e, posteriormente, em 1977, foram recolhidos, sob a forma de primeiro capítulo, intitulado "O livro didático – primeiro tempo: 1965" (1977, p.13-40), do livro Do ideal e da glória: problemas inculturais brasileiros.

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