Teses e dissertações

Sobre: O visitante

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Esse trabalho trata de dois aspectos presentes ao longo da trajetória narrativa de Osman Lins: a leitura e a escrita. Esses aspectos são percebidos tanto no nível temático quanto no nível da construção de personagens em quatro obras desse escritor: O visitante (1955), Nove, novena (1966), Avalovara (1973) e A rainha dos cárceres da Grécia (1976). O objetivo é, assim, verificar como Lins aborda a leitura e a escrita em suas narrativas, sob a perspectiva de um adensamento desses temas do primeiro ao último romance. Para realizar esse estudo de cunho bibliográfico, optamos por dividi-lo em duas partes. Na primeira, composta por dois capítulos, abordamos a leitura, o leitor, a escrita e o escritor em textos teóricos, críticos e sobre a história da leitura e da escrita, bem como obras literárias que representam esses temas. Nesse sentido, nos apoiamos em estudos de Eco, Chartier e Dällenbach, dentre outros. Percebemos, nesses dois capítulos, que tanto o tema da leitura quanto o da escrita são caros à narrativa literária desde o advento da modernidade. Na segunda parte do trabalho, nos propomos a analisar efetivamente a leitura e a escrita nas obras citadas de Lins, dedicando, a cada uma delas, um capítulo. Nesses quatro capítulos, buscamos um diálogo com a crítica especializada sobre o autor, considerando também a produção ensaística de Lins. A partir dessa análise, observamos que o autor adensa a leitura e a escrita de O visitante até chegar a A rainha dos cárceres da Grécia, partindo de uma perspectiva íntima desses atos, passando pela perpetuação da escrita e pela vivificação proporcionada pela leitura (seja de textos artísticos ou não), pelo viés da escrita literária até chegar a uma espécie de fusão de todos esses elementos.

No conjunto da literatura brasileira, Osman Lins é um nome que se destaca pela qualidade e pela diversidade de sua produção. Romancista, dramaturgo, ensaísta, dentre outras atribuições, o escritor possui um requinte estético bem como uma postura reflexiva em face dos entraves culturais, sociais e políticos do país. Os estudos osmanianos, com frequência, destacam os experimentos romanescos do autor em sua chamada fase de maturidade. Não exclusivamente, a criação anterior a esse período ainda carece de maiores exames críticos, a exemplo do romance de estreia, O visitante (1955), corpus desta pesquisa. Além da interessante urdidura textual, essa obra apresenta uma fortuna crítica modesta, o que enseja este trabalho. Acrescente-se que, em várias ocasiões, o escritor afirma que a atitude cosmogônica, aliada às preocupações com as mazelas nacionais e à reflexão sobre o processo criativo, orientam sua vida e o ofício literário. Isso posto, pergunta-se como essa cosmovisão se presentifica em O visitante. Levando em conta o traçado interdiscursivo da narrativa e a postura crítico-social do romancista, a análise proposta considera as inscrições mitológicas, bíblicas e litúrgicas, bem como seus desdobramentos escriturais no enredo. Diante disso, a hipótese é que Lins, numa modulação subversiva, traz à cena elementos do mito edênico e da liturgia cristã, como também expõe as contradições de uma sociedade que privilegia as aparências, vitimando, principalmente, a mulher. Na articulação crítico-teórica, faz-se uma revisão do itinerário analítico do corpus, ao que se conta com o auxílio de Nitrini (1987; 2001; 2003; 2004), Andrade (2001; 2004; 2014) e Ribeiro (2014), dentre outros. Os conceitos de limiar — Benjamin (1987), Gagnebin (2010); dispositivos e profanação, segundo Agamben (2009; 2010, respectivamente), também orientam a pesquisa. Completam o quadro teórico-crítico da mesma, as reflexões em torno da criação mito-poética conforme o pensamento de Mielietinski (1987), Eliade (2010), Perrone-Moisés (1998), Benjamin (2013), Derrida (2005) e Bastazin (2006). O percurso metodológico, partindo da estrutura narrativa e da fortuna crítica da obra, examina as inversões estéticas operacionalizadas pela escritura osmaniana. Portanto, O visitante, primeiro gesto criativo de Osman Lins, não obstante seus traços mito-poéticos, apresenta, por meio de uma trama introspectiva, uma arguta visão do jogo de manipulação que sustenta a sociedade, princípio que desvirtua a essência do ser e busca ocultar a natureza contraditória do poder.

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