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Cosmogonia profana: uma leitura de 'O visitante', de Osman Lins

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Tese ou dissertação

No conjunto da literatura brasileira, Osman Lins é um nome que se destaca pela qualidade e pela diversidade de sua produção. Romancista, dramaturgo, ensaísta, dentre outras atribuições, o escritor possui um requinte estético bem como uma postura reflexiva em face dos entraves culturais, sociais e políticos do país. Os estudos osmanianos, com frequência, destacam os experimentos romanescos do autor em sua chamada fase de maturidade. Não exclusivamente, a criação anterior a esse período ainda carece de maiores exames críticos, a exemplo do romance de estreia, O visitante (1955), corpus desta pesquisa. Além da interessante urdidura textual, essa obra apresenta uma fortuna crítica modesta, o que enseja este trabalho. Acrescente-se que, em várias ocasiões, o escritor afirma que a atitude cosmogônica, aliada às preocupações com as mazelas nacionais e à reflexão sobre o processo criativo, orientam sua vida e o ofício literário. Isso posto, pergunta-se como essa cosmovisão se presentifica em O visitante. Levando em conta o traçado interdiscursivo da narrativa e a postura crítico-social do romancista, a análise proposta considera as inscrições mitológicas, bíblicas e litúrgicas, bem como seus desdobramentos escriturais no enredo. Diante disso, a hipótese é que Lins, numa modulação subversiva, traz à cena elementos do mito edênico e da liturgia cristã, como também expõe as contradições de uma sociedade que privilegia as aparências, vitimando, principalmente, a mulher. Na articulação crítico-teórica, faz-se uma revisão do itinerário analítico do corpus, ao que se conta com o auxílio de Nitrini (1987; 2001; 2003; 2004), Andrade (2001; 2004; 2014) e Ribeiro (2014), dentre outros. Os conceitos de limiar — Benjamin (1987), Gagnebin (2010); dispositivos e profanação, segundo Agamben (2009; 2010, respectivamente), também orientam a pesquisa. Completam o quadro teórico-crítico da mesma, as reflexões em torno da criação mito-poética conforme o pensamento de Mielietinski (1987), Eliade (2010), Perrone-Moisés (1998), Benjamin (2013), Derrida (2005) e Bastazin (2006). O percurso metodológico, partindo da estrutura narrativa e da fortuna crítica da obra, examina as inversões estéticas operacionalizadas pela escritura osmaniana. Portanto, O visitante, primeiro gesto criativo de Osman Lins, não obstante seus traços mito-poéticos, apresenta, por meio de uma trama introspectiva, uma arguta visão do jogo de manipulação que sustenta a sociedade, princípio que desvirtua a essência do ser e busca ocultar a natureza contraditória do poder.

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