Teses e dissertações

Sobre: Guerra sem testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social

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Esta tese é um estudo sobre o ensaio de Osman Lins, Guerra sem testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social. Por se tratar de um livro que teve duas edições diferentes, foi feito o cotejamento entre elas e detectada as alterações para a segunda publicação. Das buscas documentais de Guerra sem testemunhas foi possível acessar suas fontes primárias, o que revelou a existência de Diários, que registram a elaboração da obra. Na abertura desta, está posto um desafio ao leitor; lê-lo a partir das epígrafes que aparecem no início. As duas primeiras pertencem ao poeta Deolindo Tavares e as duas outras, ao filósofo Jean-Paul Sartre. Os versos do poeta pernambucano têm como personagem Willy Mompou, que Osman Lins fez migrar para o corpo do ensaio, transformando-o em seu parceiro ao simular uma narrativa que percorre o texto. As do pensador francês espraiam-se pela escrita, em que o diálogo mantido por Osman Lins acontece a partir da fonte dessas duas menções, de Que é a literatura?. Neste, as questões acerca do escritor e da literatura servem de ponto e contraponto para Lins apresentar a sua própria visão sobre os temas em questão na obra. Em realidade, esses dois autores, Deolindo Tavares e Jean-Paul Sartre, por essas contribuições, foram analisados como os dois polos a sustentar o ensaio, o poético e o conceitual. Por essas peculiaridades estilísticas, o escritor pernambucano ocupa o espaço potencializado pelo próprio gênero. Dentro de uma perspectiva relacional, em que se inserem essas reflexões, um estudo mais detalhado sobre Deolindo Tavares justifica-se por se tratar de um poeta desconhecido, o que não acontece com Sartre, intelectual francês de grande projeção internacional e com reconhecida presença no Brasil dos anos 1960 e 1970. Também foi dada relevância para as meditações e as práticas de inspiração cartesiana, que Osman Lins deixa transparecer em seu trabalho.

Em Guerra sem testemunhas (1969), o leitor poderá encontrar os fios que tecem a escritura de Osman Lins. Essas linhas parecem direcionar-se para uma verdade simulada, no interior do projeto literário do autor de Avalovara (1973), qual seja, a solidão irreparável daquele que se exprime pela palavra. A incomunicabilidade se torna, portanto, condição necessária no ofício de escrever. À semelhança do que nos diz Foucault a respeito do discurso do louco, o discurso do escritor precisa achar-se dissociado daquela linguagem regente da vida imediata, que legitima a consecução das ações destinadas a fins úteis, e empreender uma batalha cuja única glória é, talvez, a conservação de sua dignidade. Há, nessa escolha, uma similitude inconteste entre os imperativos morais que justificam a obra de dois ficcionistas, em aparência de todo dessemelhantes: Osman Lins e Lima Barreto. Este trabalho tem por objetivo analisar as confluências entre as escrituras destes autores, nas circunstâncias em que eles se observavam imiscuídos, sem, contudo, deixar de resguardar aquilo que perdura e reluz em cada escritura. Para tanto, nós nos valemos da contribuição reflexiva de filósofos e de críticos literários que nos antecederam, são eles: Jean-Paul Sartre, Pierre Bourdieu, Antonio Candido, Roland Barthes, Gaëtan Picon, Michel Foucault, Étienne de La Boétie, José Murilo de Carvalho, Nicolau Sevcenko, Leyla Perrone-Moisés, entre outros nomes. O primeiro capítulo da dissertação apresenta um breve debate acerca das motivações e dos embates dos escritores dentro do campo literário, tomando por base algumas das linhas argumentativas delineadas por Osman Lins em Guerra sem testemunhas. Nesse estágio, observamos as particularidades do campo literário em relação aos outros campos de poder, para, em seguida, analisarmos o campo literário brasileiro. A partir do entendimento das regras do “campo”, exaustivamente perquiridas por Pierre Bourdieu, em As regras da arte (1992), nós questionamos as posições ocupadas por alguns escritores notáveis do início do século passado, a fim de localizar as trincheiras de Lima Barreto e Osman Lins. O segundo capítulo retoma o conceito sartreano de negatividade com o propósito de esclarecer como a opção de Lima Barreto por uma literatura engajada o conduziu a um isolamento irreversível, transmudado em sua ficção. Antes de realizar o trabalho hermenêutico de Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá (1919), concedemos ao leitor um cenário que lhe possibilita avistar o essencial do projeto literário do ficcionista carioca. Por intermédio do conhecimento dessas peças, depreendemos algumas das razões que fizeram da escritura barretiana uma representação das contradições de seu tempo. O terceiro capítulo é dedicado ao encontro entre os ficcionistas. Assim como fizemos no segundo capítulo, avaliamos e discutimos o projeto literário de Osman Lins, em sua fase anterior a Nove, Novena (1966), obra que assinala seu rompimento com as narrativas tradicionais, destacando de que maneira as mitologias pessoais do escritor pernambucano contribuíram para forjar sua escritura. O romance, objeto de nossa análise e interpretação, é O fiel e a pedra (1961). Na narrativa, Bernardo Cedro se insurge contra a tirania de Nestor, de maneira similar a Osman Lins, que, em diversas oportunidades, se recusou a ceder às facilidades de quem comunga com o poder dentro e fora do campo literário. Nosso intento fundamental é perscrutar a similitude insuspeita entre Osman Lins e Lima Barreto.

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