Textos em periódicos

Autor: Odalice de Castro Silva

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Na leitura de Osman Lins a propósito de Alexandre e outros heróis, de Graciliano Ramos, publicada postumamente em 1962, a qual reúne três trabalhos, de diferentes momentos - Apresentação de Alexandre e Cesária (1938), A Terra dos Meninos Pelados (1937) e Pequena História da República(1940), destacam-se três dimensões da palavra, respectivamente: a ficção como refúgio e compensação, como redescoberta da realidade e como refiguração do discurso oficial da História. Osman Lins, enquanto lia criticamente Alexandre e outros heróis, a fim de discernir diferentes usos e finalidades da palavra, escrevia Avalovara(1973) obra em que acompanha estes mesmos três limites da escritura acima mencionados; e Graciliano Ramos, ao escrever estas três narrativas, já produzira sua obra romanesca. Embora Osman Lins, bem como outros críticos, veja em Infância “grande importância para a compreensão e a mensuração do seu mundo romanesco .

A designação “romance do nordeste”, em geral relacionada ao “romance de 30” ou ao Programa do Centro Regionalista, de Pernanbuco, através de seu “Manifesto Regionalista”, apenas publicado em 1952, lido no Primeiro Congresso Brasileiro de Regionalismo, realizado no Recife, em fevereiro de 1926, assinado por Gilberto Freyre, entre outras categorias e características mais ou menos chapadas, de compromisso com o real, de verossimilhanças, de denúncias das mazelas da sociedade, já se integrara, enquanto manifestação do gênero, no Brasil.

Este ensaio pretende desenvolver alguns pontos importantes em convergência nas contísticas de José Maria Moreira Campos (1914-1994), cearense, e Osman Lins (1924-1978), pernambucano, na fase inicial dos dois escritores: o primeiro, de 1949 a 1957, com Vidas marginais e Portas fechadas, respectivamente, e o segundo, com Os gestos, de 1957. As convergências em destaque estão constatadas por documentos dos Álbuns – “O que dizem dele”, no Arquivo Pessoal de Moreira Campos, depositados no Acervo do Escritor Cearense (UFC). A admiração do escritor mais velho, Moreira Campos, pelas soluções formais, pelos arranjos na composição da narrativa curta, pelo tecido da trama, da parte de Osman Lins, dez anos mais jovem, atesta o vigoroso processo de relação examinado por T. S. Eliot (1989), como embate entre cânone ou tradição e o talento individual, como resultado das tensas e conflituosas descobertas e revelações travadas no sistema literário – Antonio Candido (s/d), Roland Barthes (1986), entre outros escritores. As convergências e as diferenças entre os escritores brasileiros em foco, com divulgação em outras línguas, os tornam valiosos intérpretes das décadas de 1940 e 1950, para um momento histórico de muitos perfis, como o assinala Hannah Arendt (2008), ainda sob consideração dos poetas pensadores, para uma possível compreensão dos desdobramentos que se seguiram ao longo do século XX.

Uma das conquistas da narrativa moderna foi expandir suas fronteiras, tanto para os elementos como para os limites consagrados pelas estéticas realista e naturalista, para a extensão e síntese. No diálogo dos grandes nomes do cânone moderno, fins do século XIX e inícios do XX, no Ocidente, fica assente a liberdade pela pesquisa formal, pela autonomia estética, o que deu origem a criações como algumas surgidas no Brasil, entre as décadas de 1940 e 1950, responsáveis pela experiência com a linguagem poética em níveis raramente alcançados. Entre esses criadores, destaca-se Osman Lins (1924-1978), o nordestino que levou suas origens e mitos para além da língua portuguesa, fazendo elevar sua voz entre aqueles que alteraram as expectativas dos leitores para outros formatos narrativos. Este exercício é uma homenagem ao criador de "Retábulo de Santa Joana Carolina", narrativa admirada e querida entre os que descobriram uma outra forma de enfrentar as dimensões do espaço e do tempo, mesmo no tempo do presente, este que nos foi entregue para uma travessia.

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