Esta tese dedica-se ao estudo da presença de estruturas próprias à linguagem musical em quatro narrativas de Nove, novena (1966): “Um ponto no círculo”, “Pentágono de Hahn”, “Conto barroco ou unidade tripartita” e “Pastoral”. A escolha destas narrativas se deu por trazerem, na literalidade do texto, uma permeabilidade entre literatura e música. Concentra-se em perceber os recursos estéticos de natureza musical, seja a partir da instauração de uma sensação sonora, seja por elementos estruturais compartilhados ou transpostos entre as linguagens musical e literária, forjados na elaboração de uma nova escrita narrativa. Osman Lins propõe uma concepção de literatura que seja tal qual uma cosmogonia, em que é na ordenação do caos pela palavra que se cria a oportunidade de diálogo com o leitor e, a partir disso, a possibilidade de um novo olhar sobre o mundo e seus modelos sociais. Para tanto, o escritor utiliza de procedimentos técnicos e estéticos da criação artística no campo da interseção entreartes, de modo a estabelecer esse debate. Uma das variantes musicais que contribuem para o nosso trabalho é o conceito de “paisagem sonora”, cunhado pelo compositor, musicólogo e crítico canadense Murray Schafer (2001), que afirma ser possível isolar um campo do conhecimento e estudá-lo como campo acústico. Mikhail Bakhtin (1981), Umberto Eco (2010), Friedrich Nietzsche (2007), Mário de Andrade (2003), Ítalo Calvino (1990), Mircea Eliade (2011) e Gaston Bachelard (1978) impulsionam a pesquisa, estabelecendo-se como fundamentação teórica.