Seguindo uma tendência geral das ciências humanas, a chegada da pós-modernidade nos estudos literários culminou na chamada “morte do autor”. Com ressonâncias que podem ser percebidas em teóricos como Roland Barthes (2004), Michel Foucault (2006; 1996), Umberto Eco (2005; 2004; 2003; 2001; 1986), Stanley Fish (2003; 1990) e Linda Hutcheon (2000; 1991; 1984), a descrença pós-moderna no significado e a convicção de que o que uma obra literária significa não só independe do autor como até encontra neste um obstáculo à criatividade por parte do leitor encontram-se amplamente divulgadas, tendo aportado na teoria da metaficção via Hutcheon (1991; 1984) e Patrícia Waugh (1984). No entanto, partindo do realismo hermenêutico, linha interpretativa segundo a qual o sentido de um texto é anterior à leitura e, sob muitos aspectos, independente dela, neste trabalho me proponho a rever o papel do autor em romances metaficcionais, em busca de leituras adequadas para tais romances. Minha teoria é a de que autor e escritor são pessoas distintas e que, dentre as quatro fontes enunciativas de um romance (escritor, autor, narrador e personagem), o autor é aquela responsável por abrir a obra, ativar a leitura e efetivar a metaficcionalidade. Dialogando com teóricos de vários campos das ciências humanas, procuro defender o autor de seus adversários e evidenciar que, nas relações que estabelece com a personagem em romances de protagonista escritor (como A Rainha dos cárceres da Grécia, Bufo & Spallanzani e O Chalaça) o autor metaficcional se dirige a nós, fazendo-nos apelos comunicativos e chamando nossa atenção para a ficcionalidade do texto. Assim, o que faço nesta tese é mostrar que, uma vez que os ataques às noções de pessoa, intenção e autoritarismo interpretativo podem até dizer respeito ao escritor, mas jamais ao autor, este não pode nem deveria ser morto. O autor, busco provar, é um elemento constitutivo da linguagem ficcional e é também o outro com o qual nos comunicamos na leitura de romances metaficcionais. O resultado é que nossa interação com tal pessoa estética é fundamental para que, distinguindo as vozes do escritor, do narrador e da personagem, sejamos capazes de ler tais romances sem fazer interpretações problemáticas.