Trata-se de uma investigação acerca da função da angústia, operador clínico de grande importância na metapsicologia psicanalítica. A angústia é descrita de Freud a Lacan dentro do registro econômico, ora transbordamento, ora sinal e preparação. Ao mesmo tempo, representa o fracasso do psiquismo em fazer frente à exigência pulsional e se constitui como trabalho de simbolização. Sua função, portanto, seria de mediação, em sua vertente de pulsão de conquista (Bemächtigungstrieb). É uma função antecipatória, em que a angústia consiste num trabalho de metabolismo do excesso pulsional. A literatura é tomada como campo de investigação desse trabalho, sob a suposição de que pode condensar experiências fugazes e permite recolher testemunhos do inconsciente. Ela serve a esta pesquisa pela virtude de transformar funcionamento em estrutura, em sua natureza estrutural e constitutivamente alegórica. A angústia, que não faz discurso mas o exige, é reencontrada na forma alegórica do desassossego, pela qual ela pode se inscrever no discurso, constituir-se escrita. Esta escrita corresponde à formalização dos impasses representacionais que concernem à vida pulsional e ao aparelho psíquico em sua tarefa de simbolização. O desassossego é aqui estudado na obra Avalovara, de Osman Lins. Tempo e espaço, dimensões fundamentais da representação romanesca, nessa obra são levados aos seus limites pelo recurso aos mais variados expedientes estilísticos. De modo geral, o aperspectivismo de tempo e espaço, em Avalovara, constitui a grande tensão que o texto pretende sustentar, entre ordem e anarquia das formas, entre conquista e resistência do que pulsa nas palavras, o mecanismo de articulação em que os impasses funcionam de modo a configurar o desassossego da obra. Seu cerne, assim o propomos, não é outra coisa senão a própria angústia. Sua função é esta, que não sejamos surpreendidos em um mau encontro como real, pela visitação anterior ao desassossego de nossa condição não esquecida.