O objetivo maior desta dissertação é apresentar e constatar a concepção e os procedimentos da escrita de Osman Lins, em seu romance Avalovara, representação da plenitude de seu engenho espiritual, como os de uma obra cosmogônica e unificadora: a defesa do ofício do escritor, da tendência de uma arte sem fronteiras, mesclada a outras, e da inclinação ornamental, privilegiando a alegoria por intermédio da união binária de mecanismos poéticos e retóricos, da junção de ficção, tempo histórico e reflexão teórica, narrativa, realidade e especulação filosófica, figuração e sentido próprio, numa rede infinita de significados ubíquos e isotópicos. Os recursos teóricos predominantes constam das reflexões do próprio autor, contidas em Guerras Sem Testemunhas e em entrevistas publicadas em Evangelho na Taba, dos estudos sobre alegoria e ornamentações retóricas, de João Adolfo Hansen, e dos simbolismos livrescos e da escrita, considerados, na perspectiva do trabalho, também como alegóricos, e ainda de aspectos da literatura europeia e da Idade Média Latina, analisados por Ernst Robert Curtius. A exposição da formulação estética de Osman Lins, abordada inicialmente, é relacionada às caracterizações de alegoria, expostas por João Adolfo Hansen, em suas configurações criativas e interpretativas e na designação de sua tipologia, sendo comparadas com diversas formas figuradas ao longo da Idade Média latina e europeia, através do estudo de E. R. Curtius. A escrita osmaniana é, assim, apresentada em conexão com a tradição literária ocidental, em sua exuberância engenhosa e em suas relações sagradas e míticas, revelando-se como forma privilegiada de conhecimento.