Teses e dissertações

Centro Universitário Ritter dos Reis

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Tipo

Dissertação de Mestrado

Ano

2010

Este trabalho aborda os aspectos musicais relacionados à construção do relógio de Julius Heckethorn, com base na sonata K 462 de Scarlatti, detalhadamente narrados no tema P, do romance Avalovara, de Osman Lins. O objetivo é o estabelecimento de relações entre esses aspectos musicais e os elementos estruturais do romance, com vistas ao desvelamento de algumas de suas regras. São relevantes e numerosas as referências musicais presentes no romance. Além das ricas narrativas de cenas sonoras, tais como o bater das ondas do mar na beira da praia, o som do vento, o barulho das patas dos cavalos, o cantar dos pássaros, há representações de manifestações musicais folclóricas e eruditas retratadas pelo Pastoril, no Recife, pela cantata Catulli Carmina, de Carl Orff, e pelo salmo In Convertendo Dominus, de André Campra. As reflexões têm como referência teórica a perspectiva de Matila Ghyka (1968) para relacionar os elementos estruturais da obra com a construção do relógio de Julius Heckethorn, e como referência musical as informações contidas em Grout e Palisca (2007).

Este trabalho trata do romance Avalovara, de Osman Lins sob o ponto de vista do entrecruzamento de linguagens para compreender como a cidade e seus lugares são representados na obra e quais seus significados. Seguindo o movimento de uma espiral sobre um quadrado estável, o personagem Abel se desloca na procura de uma Cidade idealizada, durante esta trajetória, se envolve amorosamente com três personagens femininas. Após visitar diversas cidades europeias, Abel retorna ao Brasil, que sob ditadura militar, se encontra em clima de extrema opressão. A busca pela Cidade sem nome termina quando Abel encontra em, a personagem Inominada, o amor, o sentido de sua vida, a literatura. Avalovara nos conduz a uma reflexão sobre a origem das coisas, do fazer literário, da busca do amor e da literatura, metaforicamente representada pela busca da Cidade. A visibilidade da Cidade no final do romance coincide com a entrega dos amantes ao ato sexual, no tapete. Naquele momento misturam-se personagens, corpos, textos, memórias, palavras, a Cidade, os monumentos e um rio. Abel está em, é literatura, é Cidade e seus lugares sagrados.

Uma incursão pelo romance Avalovara, de Osman Lins, abre possibilidades para a descoberta de um universo acústico repleto de simbolismos, permeando as cenas da narrativa. O presente trabalho fundamenta-se nas pesquisas do compositor e educador canadense Raymond Murray Schafer sobre a paisagem sonora mundial. Propõe-se a investigar a relação entre a obra literária Avalovara e a linguagem sonora a partir das expressões acústicas do romance, identificando os possíveis significados de tais conexões. Fez-se necessária a transposição para o mundo ficcional de Avalovara da metodologia de análise e classificação dos sons utilizada por Schafer, tendo sido elaborada uma tabela de categorização contendo os cenários mais significativos com as sonoridades identificadas em cada um deles. Uma passagem pelos caminhos da ecocrítica e da ecologia sonora possibilitam, com base na visão de Schafer sobre ruído associada a diversas expressões de sons estridentes presentes na narrativa, vislumbrar uma proximidade do pensamento de Osman Lins com o ideário da ecologia acústica. Sons naturais, música, ruídos e silêncio se mesclam em uma sinfonia de oposições sonoras em que o ir e o vir dá vida e ritmo à narrativa, estabelecendo uma ligação da linguagem literária com a linguagem musical. Inter-relacionam-se, também, a estrutura do romance e a organização formal de peças musicais relevantes, tais como, a cantata Catulli Carmina, de Carl Orff, e os fragmentos da introdução da Sonata em fá menor (K462) para cravo, de Scarlatti. Quatro músicas de caráter contrastante, aqui denominadas de eixos musicais, revelam o percurso dos protagonistas em suas buscas, seus anseios e suas frustrações. O pássaro Avalovara com seus cantos, gritos e movimentos em espiral, traz à tona um mundo de mistérios que permite fazer associações e interpretar os diversos simbolismos relacionados à ave guia. As palavras no corpo da remetem a um processo de iniciação para o conhecimento, quando o pássaro mítico a introduz no mundo dos sons. Alguns aspectos da filosofia tântrica são aqui abordados em razão da profunda similaridade dos processos de ascensão espiritual com a trajetória de Abel e a , em sua obstinada busca pelo conhecimento absoluto a partir do domínio dos mistérios das palavras que perpassam o corpo da mulher tríplice. O silêncio no romance é analisado sob várias perspectivas, relacionando-o com a filosofia tântrica e com as concepções de Schafer e de John Cage. O romance foi considerado como uma única paisagem sonora e seus fragmentos cênicos denominados, neste trabalho, de cenários sonoros.

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