Das primeiras peças ao teatro experimental, uma mudança sensível marca a dramaturgia de Osman Lins. Ou seja, da primeira para a segunda fase houve uma metamorfose de sua escrita teatral. No início da carreira, o autor investiu na linha cômico-popular e ganhou os aplausos do público e da crítica com Lisbela e o Prisioneiro. O drama realista Guerra do Cansa-Cavalo teve boa acolhida e até mesmo a recepção fria à montagem A Idade dos Homens – com sua crítica social urbana – gerou um bom debate na mídia. As inovações da trilogia Santa, Automóvel e Soldado, composta pelas peças Mistério das Figuras de Barro, Auto do Salão do Automóvel e Romance dos Dois Soldados de Herodes ainda são pouco conhecidas, encenadas e estudadas. A dissertação, de abordagem interdisciplinar investiga dois campos imbricados que envolvem a trilogia Santa, Automóvel e Soldado. O primeiro detém-se sobre os possíveis motivos dessa dramaturgia não ter alcançado o merecido reconhecimento, numa tentativa de desvelar os obstáculos da receptividade da trilogia. O segundo debruça-se sobre a análise das peças. Sigo o pressuposto de que uma rede complexa de acontecimentos impediu a consagração da trilogia. Minha hipótese é que a conjuntura do período (ainda sob o regime militar), a estética teatral hegemônica, os duelos travados nos bastidores entre grupos para firmar seu ideário, as estratégias de negociação para que determinada estética chegasse ao público; além da publicação do seu livro de ensaios Guerra sem Testemunhas – um estudo crítico sobre a realidade do escritor brasileiro, que traça conexões entre campo literário (inclusive teatral) e campo de poder – contribuíram para o isolamento e até mesmo o silêncio sobre as peças que são objeto dessa pesquisa. Na segunda ponta do trabalho, baseio-me na hipótese de que o teatro corria em paralelo à sua obra ficcional, ou seja, Lins empreendeu inovações também na dramaturgia, estabelecendo nessas experimentações um novo gênero épico.