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Este trabalho acusa a presença de três traços da estética barroca no conto “Retábulo de santa Joana Carolina” (2002) de Osman Lins. Os aspectos desse estilo identificados na obra são, respectivamente, a forma aberta, apontada por Wölfflin (2000) como caracterizadora da produção visual barroca, as agudezas literárias seiscentistas e o labirinto barroco. A princípio, elencam-se algumas considerações críticas sobre o barroco no panorama nacional novecentista, refletindo-se sobre a perspectiva retórica de Hansen (2004), a abordagem psicologizante de Ávila (1971) e a compreensão do barroco como um fenômeno cultural de Sant’Anna (2000). Após essas reflexões sobre a estética seiscentista, ressalta-se o rebuscamento e a propensão visual do conto de Osman, características que, frequentes em sua obra, já viabilizaram a aproximação de outros textos seus com o barroco. Por fim, são analisados os procedimentos estilísticos empregues pelo autor para se aproximar das configurações artísticas do seiscentos, a saber: a forma aberta, trespasse dos limites da tela, encontra correlato na transgressão dos limites dos mistérios, seções autotélicas que compõem o conto; as agudezas e o labirinto barroco, por sua vez, estão presentes no princípio dessas mesmas passagens.

Este artigo analisa a apropriação de um estilo de escrita neobarroco por parte do escritor pernambucano Osman Lins, bem como alguns desdobramentos dessa escolha estética feita em sua obra Avalovara (1973). Como aparato teórico, buscamos apoio principalmente na análise de Irlemar Chiampi sobre a apropriação e ressignificação da estética barroca por autores latino-americanos do século XX, em Barroco e Modernidade (1998) e O Realismo maravilhoso (2012). A partir da observação de que Avalovara apresenta um grau de complexidade em sua leitura e ao mesmo tempo uma variação imensa de recursos estilísticos e conceituais que fazem de seu texto uma construção contestadora não só do modo usual e “clássico” de narrar, mas de toda uma série de modelos de interpretação do mundo impostos de fora aos países latino-americanos, procuramos demonstrar que a obra pode ser analisada, segundo a tese de Chiampi, como representante do modo de contestação que os neobarrocos fazem à lógica utilitária dos sistemas de ideias regentes da sociedade ocidental.

Este artigo investiga a categoria da temporalidade poética no conto O vitral, de Osman Lins (1924-1978). Presente na coletânea Os gestos (1957), a narrativa em questão aborda os instantes líricos de revelação do casal Matilde e Antônio, a partir da decisão de registrar com um retrato a comemoração de vinte anos de casamento. Ao manipular quadros estáticos, o contista flagra a poeticidade do instante ao instaurar momentos de vibração interior dos personagens. Dessa forma, surgem nivelamentos na fatura narrativa que permitem discutir de que maneira o escritor, a partir da moldura temporal, potencializa a matéria literária, criando uma obra essencialmente poética. O paralelismo entre o tempo presente e o tempo da memória apresenta uma duplicidade acentuada pelos contrastes entre o casal: enquanto Matilde revela-se sonhadora e infantil, Antônio surge como realista, ponderado e circunspecto. Assim, este contraponto contamina a fatura narrativa, caracterizando uma temporalidade diferente da linear; subordinada ao espaço e, por sua vez, descontínua. Este procedimento favorece a análise do conto mencionado a partir da teoria de Jean-Yves Tadié (1994) acerca da narrativa poética. Ademais, serão considerados estudos referentes à fortuna crítica de Osman Lins, os quais iluminarão o tema proposto.

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