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Sobre: Domingo de Páscoa

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Neste artigo, objetivamos analisar a novela Domingo de Páscoa (2013), do escritor pernambucano Osman Lins, interpretando a corporeidade heterotópica das personagens como “alegorias metanarrativas” que retomam as preocupações acerca da arte literária e de seus elementos. Para tanto, utilizamos Walter Benjamin, que em A origem do drama barroco alemão define a alegoria como um modo de fixação do tempo, uma vez que é na escrita alegórica/imagética que se fixam os signos do passado, e que pode ser lida a própria história. Benjamin sentiu profundamente a crise dos fundamentos e da experiência humana, a decadência e a ruína da tradição na qual se encontra embebido o pensamento ocidental, partilhando a vertigem niilista, na qual o homem não encontra salvação possível. Apesar disso, não se deixou paralisar pela acedia ou tédio do homem moderno, procurando sempre, e através de um impulso alegórico, salvar o que estava ao seu alcance, restaurar a linguagem e a história, num gesto melancólico e pautado pela esperança tênue da redenção messiânica. Acreditamos que o seu gesto tem muito a ver com o espírito do investimento literário osmaniano. Para desenvolver esta análise, utilizaremos ainda os conceitos de Heidegger, Sartre e Romano, e os conceitos de heterotopia e de similitude de Michel Foucault, optando por considerar as personagens não como corpos simplesmente dados, mas como corporeidades complexas que se articulam com os ambientes no mundo narrado.

Nos deslocamentos do sentido de morada em seu de-morar temporário (Blanchot, Derrida, Freud), o gesto escritor, retornando à sua origem, liga os escritos da fase da procura, principalmente em Os Gestos (1957) incluindo “A casa” (1951, até então inédito) aos últimos escritos de Osman Lins. O enlace com os da fase da plenitude existe quando, tanto o quarto quanto a moldura de uma janela enquadram o espaço íntimo do gesto que se amplia e se transforma na passagem ao mundo exterior, na busca alargada do corpo/casa que se escreve. Em Domingo de Páscoa (1978) e o Diário Íntimo Últimas Anotações ou Diário da Doença (1978) destaca-se esse gesto íntimo da morada originária transfigurado, ao se cruzar no análogo espaço dentro/fora da janela, através do quarto do doente. A leitura crítica, em esboço, busca atualizar o gesto poético e o sentido de doença.

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