Neste artigo, objetivamos analisar a novela Domingo de Páscoa (2013), do escritor pernambucano Osman Lins, interpretando a corporeidade heterotópica das personagens como “alegorias
metanarrativas” que retomam as preocupações acerca da arte literária e de seus elementos. Para
tanto, utilizamos Walter Benjamin, que em A origem do drama barroco alemão define a alegoria
como um modo de fixação do tempo, uma vez que é na escrita alegórica/imagética que se fixam
os signos do passado, e que pode ser lida a própria história. Benjamin sentiu profundamente a
crise dos fundamentos e da experiência humana, a decadência e a ruína da tradição na qual se
encontra embebido o pensamento ocidental, partilhando a vertigem niilista, na qual o homem
não encontra salvação possível. Apesar disso, não se deixou paralisar pela acedia ou tédio do
homem moderno, procurando sempre, e através de um impulso alegórico, salvar o que estava ao
seu alcance, restaurar a linguagem e a história, num gesto melancólico e pautado pela esperança
tênue da redenção messiânica. Acreditamos que o seu gesto tem muito a ver com o espírito do
investimento literário osmaniano. Para desenvolver esta análise, utilizaremos ainda os conceitos
de Heidegger, Sartre e Romano, e os conceitos de heterotopia e de similitude de Michel Foucault,
optando por considerar as personagens não como corpos simplesmente dados, mas como corporeidades complexas que se articulam com os ambientes no mundo narrado.